05 setembro 2009

Testemunho: Gripe A

Nestes tempos em que o vírus da gripe A (h1n1) tem enchido as capas de jornais e surgido insistentemente nas televisões que vão dando destaque a medidas de contenção e de combate a esta pandemia, há uma questão que me tem sobressaltado e sobre a qual ninguém tem falado: o Ministério da Saúde tem vindo a dar alguns conselhos para quem apresenta sintomas, mesmo que ligeiros, como ficar em casa de quarentena e ligar para a linha Saúde 24. Tudo muito bem mas, mesmo desconhecendo o real perigo desta gripe, parece-me alarmante uma situação: então e os precários?
Sabendo que as estimativas mais optimistas apontam para que um em cada cinco trabalhadores portugueses sejam precários, não tendo por isso direito a baixa médica, espera a ministra da saúde que esses trabalhadores fiquem em casa por causa de uma febrezinha ou de uns vómitos quando, faltando ao seu emprego, podem ficar sem ele? Se pensa isso, é porque não sabe o que é estar a recibo verde, não sabe o que é ser “trabalhador independente” (assim mesmo, com aspas) no nosso país.

Conhecendo casos de pessoas que trabalharam até ao último dia de gravidez, que toleraram uma apendicite, mesmo outras gripes e muitas outros males, não será de supor que mandem às urtigas os conselhos da Dr.ª Ana Jorge?

Também já foram identificados alguns grupos prioritários para a vacinação contra esta gripe, “grupos de risco” como professores, auxiliares de acção educativa, médicos e enfermeiros, etc. Aqui também surge uma questão: serão vacinados apenas os trabalhadores com vínculo ao quadro ou terão igual tratamento os inúmeros “trabalhadores independentes” com contratos de prestação de serviço celebrados com o Estado Português. Por exemplo, os formadores do IEFP e dos Centros de Novas Oportunidades ou as pessoas que estão em Programas Ocupacionais, com quantas pessoas estão em contacto num dia normal de trabalho? Dá que pensar…

E quem será, em última análise o responsável pelo contágio de outros trabalhadores? O precário, que tem que sujeitar a estas condições para poder comer? Ou os patrões e o governo que mantém esta exploração há tempos demais?

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