30 julho 2007

Testemunho: Universidade Fernando Pessoa

Acto I

A propósito de cumprimento de horários e obediência a chefias, aqui deixo uma estória que ilustra o quanto dependente pode ser um "trabalhador independente". Fui docente na Universidade Fernando Pessoa, a recibos verdes. De um dia para o outro, mudavam os horários lectivos. Os docentes tinham de estar disponíveis todos os dias da semana, das 8h00 à 23h00. Eu estava a dar uma disciplina e a coordenadora do departamento pediu-me para dar uma segunda disciplina. Eu aceitei, sob condição de ser num determinado horário e dia da semana. Ela aprovou e comecei a dar a disciplina no horário combinado. Na semana seguinte, mudaram-me o horário para um dia diferente e para o período da tarde. Num dia e num horário em que eu tinha aulas noutro estabelecimento de ensino! Reclamei e a dita coordenadora disse-me que eu tinha de solicitar uma mudança de horário. Fiz o pedido e uma semana depois recebi uma resposta negativa. Nova reclamação, ao que a coordenadora do departamento me responde: "As suas aulas da outra universidade não têm nada a ver com as aulas da UFP! Tem de cumprir o horário!" E negou que tivéssemos combinado que as aulas seriam num determinado dia da semana e no período da manhã. Eu quis expor o caso ao reitor, que nunca se dignou receber-me, apesar de eu ter renovado o pedido, junto da secretária, meia dúzia de vezes...


Acto II

Dei aulas na Universidade Fernando Pessoa, no período nocturno. Não recebia mais por trabalhar à noite. A remuneração horária era a mesma que para as aulas diurnas. Qual não é o meu espanto quando me marcam o exame daquela turma da noite para as 8h00. Isso obrigava-me a passar a noite anterior no Porto, pois não havia transportes que me permitissem chegar às 8 horas da manhã à UFP. Pedi mudança de horário. Adivinhem qual foi a resposta. Pois, a mesma que no Acto I. Além de pagar o transporte habitual, ainda tive de pagar hotel. Por acaso, a aluna inscrita para o dito exame não apareceu...


Acto III

Quando me recrutaram para dar aulas na Universidade Fernando Pessoa, tive direito a uma longa entrevista com o reitor, todo ele simpatia. Dois anos depois, para me dispensarem, tive apenas e singelamente direito a uma carta, enviada no dia 31 de Julho, em correio registado, e recebida no final de Agosto, ao regressar de férias. Na carta avisavam-me ainda que teria de devolver a chave do meu cacifo. A pedido meu, enviaram-me por correio o conteúdo do dito cacifo, que continha ainda os meus pertences. Um modus operandi expeditivo e glacial. Não sei se o Fernando Pessoa não andará às voltas no seu túmulo...


Anónima

28 julho 2007

Reportagem sobre recibos verdes no EXPRESSO

"Vidas a Prazo" é o título da reportagem que o jornal Expresso publica esta semana, na revista Única.

Com texto de Katya Delimbeuf e fotos de Tiago Miranda, este trabalho, que contou com a colaboração do FERVE, apresenta diversas histórias, na primeira pessoa, sobre esta realidade de trabalho que abrange quase um milhão de trabalhadores/as em Portugal.


Entre as histórias abordadas, encontram-se as de uma formadora de um Centro Novas Oportunidades (CNO) do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), de uma arquitecta, de uma psicóloga, de um músico, de um operador de câmara e de um manipulador de bonecos do programa Contra-Informação.

Podem aceder à reportagem aqui.

23 julho 2007

Oficina: Teatro do Oprimido

O FERVE - Fartos/as d'Estes Recibos Verdes promove, durante esta semana, uma oficina de Teatro do Oprimido à volta de histórias de precariedade e recibos verdes.

O Teatro do Oprimido (http://www.theatreoftheoppressed.org/) é uma metodologia que usa a linguagem teatral para ensaiar a mudança social, permitindo-nos compreender melhor o mundo e as relações de opressão que nele existem.

A partir de casos concretos (como as histórias que dão corpo a este blog), iremos fazer uma série de exercícios que nos permitirão partilhar estas situações e explorar os mecanismos que as perpetuam.

Durante as sessões, iremos trabalhar na construção de uma apresentação de teatro-fórum. Na sexta iremos para a rua apresentá-la e desafiar as pessoas a pronunciarem-se sobre o assunto.

No teatro-fórum, apresentamos ao público um problema para o qual não temos solução e pedimos que nos ajudem a encontrar as saídas possíveis. Mostrando – actuando – estratégias diferentes, os/as espectactores/as participam de forma directa na criação de um final ou de vários finais possíveis.


INFORMAÇÕES:


- Ensaios: 23 (2ª), 24 (3ª) e 25(4ª) de Julho, das 21h30 às - 24h00, no Espaço 555, situado na Rua do Almada, número 555, no Porto.

- Apresentação: 27 de Julho, Sábado, na Praça dos 'Leões', no Porto.

- A oficina, orientada por José Soeiro, é gratuita e aberta a todos/as, não sendo necessário que os/as participantes/as tenham qualquer preparação específica na área do teatro.

- Para participar, basta enviar uma mensagem de correio electrónico para grupoferve@gmail.com, para teatroforum.porto@gmail.com ou então, aparecer no 555, às 21h30.


VÍDEO: podem ver o vídeo da desta apresentação neste endereço http://vids.myspace.com/index.cfm?fuseaction=vids.individual&VideoID=18995845

18 julho 2007

Testemunho: Instituto dos Museus e da Conservação







Trabalho num Museu Nacional, tutelado pelo Instituto dos Museus e da Conservação, criação recente, resultado da fusão entre Instituto Português dos Museus e Instituto Português de Conservação e Restauro.

Nesse museu, trabalho a projecto: todos os anos faço a minha proposta de trabalho e orçamento, peço a dois amigos que me façam o favor de orçamentar por alto e entrego tudo à tutela, que escolhe a "empresa" mais barata. Eu.

Isto repete-se há vários anos com dezenas de pessoas espalhadas pelos vários museus nacionais; somos pagos/as em quatro suaves prestações, que deveriam surgir de três em três meses mas que, muitas vezes, se arrastam durante muito mais do que isso, gerando conflitos vários a quem tem obrigações para gerir, uma vez que recibos verdes não é igual a juventude e desprendimento. Pelo contrário, é sinónimo de filhos, rendas, prestações.

Ora, não tendo eu a capacidade telepática (ou mesmo de força bruta) para obrigar os chefes que assinam cheques e aprovam pagamentos, sou das tais que já ficou cinco meses sem receber.

Para além de tudo isto, os 151€ da Segurança Social acabam por nos levar à loucura, já que o atraso chega a ser tal que quando nos dirigimos a um Multibanco para saldar dívidas à S.S. ficamos novamente sem tostão.

Faço horário, tenho tempo de férias (não remuneradas, claro!), trabalho com os meios da instituição e considero os efectivos meus colegas.

Esfolo-me para mostrar que sou necessária ao serviço, mas vou ser facilmente substituída por um qualquer senhor do Ministério da Agricultura que tem uma licenciatura em qualquer coisa e há alguns anos que tem como maior dever chegar lá e por lá estar.

Sou totalmente a favor da alocação racional de recursos humanos já existentes na função pública e já o deviam ter feito há mais tempo, que há muito boa gente efectiva e parada; mas isto de continuarem a renovar os recibos verdes é acenar a cenoura à frente dos burros que passam os dias a carregar marmitas com almoços caseiros, a pagar gasolina com dinheiro emprestado e a dever prestações de qualquer coisa a meio mundo.

Esta situação leva-me muitas vezes a considerar abandonar um trabalho que adoro e que me faz sentir muito completa e valorizada pela segurança mínima de um contrato e de um pagamento mensal numa loja qualquer, a ganhar uma ridicularia, mas que, pelo menos, lá vai pingando e sempre dá o privilégio mínimo de se poder ficar doente em casa.

Apesar do anonimato, não temo represálias do Instituto. Na verdade, acho que somos tão pouco importantes para os seus dirigentes que não devem perder uma hora do seu sono a pensar que, se calhar, não receber todos os meses é duro para alguns.

Anónima

17 julho 2007

Testemunho: enriquecimento curricular e afins...

Agora que estou "de férias forçadas" (sou professora de Inglês no Ensino Básico) e tenho tido mais tempo para reflectir. Lembrei-me que poderia ser interessante um abaixo-assinado em grande para levar o nosso assunto a ser debatido na Assembleia da República para, pelo menos nas entidades públicas, pagas com os impostos de todos nós, esta praga possa terminar.

Fui recentemente a duas entrevistas para trabalhos normalíssimos, um deles era de introdução de dados e atendimento de chamadas telefónicas, e até aí me foi exigido trabalhar a recibos verdes, sendo que com uma variante que desconhecia: não tinha um salário-base fixo, era tudo dependente do número de chamadas que recebesse por dia (no qual eu tenho imensa influência, como está bom de ver).

Claro que recusei ambas as propostas; por valores tão baixos previstos ao fim do mês, não me compensa minimamente estar a pagar 151 euros de Segurança Social mensalmente. Saí da segunda entrevista tão revoltada que resolvi "pôr a boca no trombone" e denunciar estes casos escandalosos à Inspecção-Geral do Trabalho.

Telefonei e foi-me dito que denúncias só na Loja do Cidadão, presencialmente, e, mesmo assim, sem garantias de que a queixa viesse a resultar em algo, pelo menos nos tempos mais próximos. Desisti...
E conformei-me à triste realidade de que, até fins de Setembro, estou em casa, depois de bater a muitas portas de call centers e afins, porque, como tenho a sorte de os meus pais não receberem o salário mínimo, não tenho direito a rendimento social de inserção nem subsídio de desemprego, porque sou trabalhadora de segunda categoria (ou talvez abaixo).

Sinto que, se organizássemos uma iniciativa em grande escala, se nos fizéssemos ouvir junto de alguém influente (sindicatos, advogados especialistas em Direito do Trabalho), as coisas poderiam mudar. A união faz a força e, como o blog tem provado, somos muitos.
Anónima

Testemunho: Sociologia

Começo por felicitar a vossa iniciativa. De longe, reúnem e aproximam situações decadentes, deprimentes, aflitivas e claras de uma situação política e empresarial que prospera neste nosso Portugal.

Incrivelmente, Portugal é o país que mais trabalhadores "independentes" tem e eu sou mais um caso. Com licenciatura e pós-graduação na tão malfadada sociologia, ainda tive a sorte de encontrar em dois anos de espera um trabalho na minha área de formação. Tudo parecia idílico. Posso felicitar-me por ter atingido tão almejado objectivo, quando inocentemente me confrontei com a triste realidade partilhada neste blog.

Claro está que me foi comunicado que teria de arranjar recibos verdes, para poder assumir um cargo de coordenação, num programa de prevenção para jovens com comportamentos de risco. A primeira surpresa surgiu quando me vi a negociar o salário. De €700 passei para €800 e ainda ouvi a seguinte frase do empregador:

- "Tem muita sorte em receber isto... a maior parte dos seus colegas nem emprego tem e se o têm recebem muito menos".

Como é de conhecimento comum, tirem os €151, mais a retenção na fonte de 21% e façam as contas ao que me sobra mensalmente.

Logicamente, meio boquiaberta, fui controlada pelo ímpeto do amor-próprio. Em breve percebia a trama engenhosa dos ditos "recibos verdes". Embora surja na lei a questão da isenção de horário, pude perceber que da lei à realidade vai um longo e tortuoso caminho.

Cumpro um horário das 9:00 às 17:30, obedeço claramente a uma chefia, dependo das instalações e materiais do empregador. Até aqui, nada foge ao que é visivelmente norma institucionalizada.

Subitamente, vejo-me a acumular funções arbitrariamente (a minha versatilidade estava em cheque), a trabalhar ocasionalmente aos sábados e domingos das 9h até às 20h e a ouvir:
- "Sabe que não pode cobrar horas extraordinárias. Conhece a lógica do seu contrato não é!?"
Mais uma vez, estupefacta submeti-me ao silêncio e resolvi gritar em casa.

O mais absurdo de tudo isto, e no meu caso não é o pior de todos; é o choque que sofremos ao ouvirmos estórias semelhantes, casos de jovens que investiram 4 a 5 na formação académica, a pedido do Estado e das empresas, sob o mote da "Promoção e Desenvolvimento dos Quadros Técnicos de um País" pobre em qualificação, desejoso de crescimento económico e social, ansioso pela sua auto-estima e pelos resultados competitivos enquanto membro da União Europeia e depois é isto.

Jovens qualificados, sejam eles técnicos nível III ou V, que na sua maioria ouviram os pais e que receberam todo o tipo de apoio para a prossecução dos seus estudos, para na sua maioria morrerem na praia.

Claro que existem casos de sucesso, e feliz fico por eles. Lamento, e é por isso que aqui estou, pelas 2 gerações que não vê singrar o seu esforço e trabalho.

Muitos de nós, atingem diariamente todos os limites possíveis com receio do cancelamento de contrato.

Muitos de nós, vê-se a receber sem reclamação uma remuneração onde tirando todos os descontos possíveis, circunscreve-se a um claro indicador de pobreza disfarçada.

Muitos de nós, adiam com 30 anos projectos individuais, exactamente porque não têm o mínimo controlo no seu futuro.

Todos nós sabemos o que é não TER direito a estar doente, subsídio de alimentação, transporte, seguro de saúde, subsídio de férias...

Reina o paradoxo da desmotivação e do sacrifício.

Ainda mais triste é a clara maioria, (onde me incluo) de preferir a categoria de anonimato com receio de represálias.

Claramente pergunto-me como provocar a mudança! Começar pela reunião é o primeiro passo, a divulgação é o segundo momento e por fim...procurar mudar.

Acredito profundamente na minha geração.

Acredito que todo este esforço e espírito de sacrifício merece uma recondução da nossa parte.

Contem comigo para fazer barulho!
Anónima

Testemunho: PME Portugal, IEFP e muito mais...

Então a minha triste história da ‘porra‘ dos recibos, é esta: tudo começou em 2001, quando fui contratado por uma empresa que me disse que exigia recibos verdes. Sinceramente, o que eu queria era mesmo ganhar dinheiro para sair de casa; nem sabia ao certo o quer eram esses recibos.

Trabalhei dois meses e mandaram-me embora porque eu era contra aquilo que fazia na empresa: a Telepáginas falsificava contratos e ia a empresas dizer que eles tinham assinado um contrato virtual e se quisessem rescindir teriam que assinar um papel e pagar. Esse papel era outro contrato. Ao início, não sabia ao certo o que fazia mas, quando dei por ela, comuniquei-lhes e mandaram-me embora. Vim sem problemas, ganhei 80 contos, na altura em dois meses…

Depois disso, nunca mais peguei nos recibos. Quando me fui colectar ninguém me disse que, se não precisasse deles, teria que dar baixa da minha colecta.

Em 2006, após ter acabado o curso, fui contratado pela PME Portugal, para trabalhar os três primeiros meses a recibo verde, e depois assinariam contrato comigo. Sim senhor, aceitei. Lá passei os três meses de recibos, só que depois pediram-me mais três meses porque precisavam. E eu lá facilitei porque gostava do que fazia. Findos esses seis meses, mandaram-me embora, conclusão: Chulos, oportunistas!

No fim de 2006, resolvi abrir uma empresa na minha área de curso. Fui tratar dos respectivos papéis para dar início à empresa. Paguei o que tinha que pagar, tanto à Segurança Social como às finanças, e lá dei início à empresa. Tanto a Segurança Social como as Finanças me disseram que estava tudo bem em termos legais e de dívidas!

Para uma empresa começa, em Portugal, é difícil: prometeram apoios e mais apoios e zero de apoios…Tive que me desvincular da sociedade porque me recusava a pagar aquele absurdo tanto às Finanças como à Segurança Social!

Voltei à estaca zero, e resolvi dar aulas para uma entidade estatal. Tudo muito bem, mas na hora de pagar é que vêm os problemas todos: desde Janeiro que estive a dar aulas lá e desde Janeiro que não recebo, o que é muito bom, para uma escola estatal sendo ela, ainda por cima, um Centro de Formação Profissional , que funciona com dinheiro da União Europeia e do Estado. Reclamei, reclamei, e…zero…

Desde Janeiro, estou a arder… O pior , é que tinha de fazer 228 quilómetros, mais portagens, mais alimentação, isto tudo a sair do meu bolso , para dar formação. Chegado ao fim, em vez de lucro, tenho dívidas: que bom!


Mexi-me, falei com advogados e contabilistas, e tudo bem: tinha toda a razão. O problema surge quando eu vou à Segurança Social e às Finanças pedir uma declaração de não dívida. Na Segurança Social, dizem-me que lhes devo contribuições desde 2002, por ter recibos verdes!

E esta?!? Eu, ingenuamente, não sabia que tinha que deitar abaixo a colecta se não usasse os recibos.
Usei-os oito vezes e não me disseram nada.
Montei a empresa e não me disseram nada.
Paguei sempre e não me disseram nada…
E agora, querem que eu pague contribuições de coisas que não usei?!
Que me informassem quando me colectei, não me disseram nada!
E agora querem que eu pague o quê?
Vão ter sorte….Que me mandem prender: pelo menos, tenho tudo pago, televisão e internet!

Fui falar com alguém nas Finanças e disseram-me, na cara, que não avisam nada. Pois é, mas enquanto não lhes pagar o que eles pedem, não recebo o que trabalhei…
Recibos verdes nunca mais… Trabalhar a recibos verdes para Estado é que nem pensar; trabalhar para o Estado para roubar outros, muito menos!

Já agora ouvi dizer, que a partir de certa altura, toda a gente vai trabalhar a recibos verdes , os professores já começaram ….Vá bem isto; vai, vai…

Resumindo…NÃO PAGO…e…NÃO PAGO…
RECIBOS VERDES NUNCA: FORA COM ELES!

13 julho 2007

FERVE na revista Visão

A revista 'Visão' desta semana publica uma reportagem intitulada "Verdes (des)esperança", efectuada pela jornalista Joana Fillol.

Neste trabalho, onde o FERVE - Fartos/as d'Estes Recibos Verdes participa, podem ler-se diversos testemunhos e também ficar a conhecer (ou a conhecer melhor) os "Precários/as Inflexíveis" ou a "Plataforma dos/as Intermitentes do Espectáculo".

A pouco e pouco, os/as 800 mil trabalhadores/as a recibo verde vão-se fazendo ouvir...

Testemunho: recibos verdes versus contrato

As pessoas a recibo verde são, em geral, exploradas, mas há uma outra vertente que tenho observado: essas pessoas podem, sem querer, (ou por querer isso já depende da consciência e necessidades de cada um) ser utilizadas, pelas chefias, para atingir e prejudicar colegas com melhor situação laboral.

Devido à sua condição são praticamente obrigadas a realizar trabalho, que outros, por motivos válidos podem recusar e geram-se conflitos. No limite, passa-se à situação inversa: os funcionários são preteridos em relação aos trabalhadores a recibos verdes.

Por isso, recibos verdes não interessam a ninguém. A médio prazo, a qualidade do trabalho cai a pique porque não existe capacidade crítica. Trata-se de manter o posto de trabalho a qualquer custo. Todos perdemos.

Ilídia Pinheiro

08 julho 2007

Testemunho: Fisioterapeuta

Passa-se a seguinte situação comigo: trabalho todo o dia e ganho cerca de 1100 euros a recibos.

Parece muito não é? Então agora vamos lá tirar tudo. Vou fazer isto ao ano. 1100 euros x 11,5 (porque como qualquer pessoa normal quero pelo menos 15 dias de férias e como não são pagas retiro) = 12650 x 0,8 (IRS) = 10120 - 1836 = 8284. Até aqui tudo bem, não é?

Vamos agora dividir por 12 meses de trabalho. Dá cerca de 690 euros, sem direito a 13º mes, sem direito a 14º mes, sem direito a férias pagas, sem direito a adoecer, sem direito a nada, e nisto ainda posso descontar os cerca de 150 euros anuais que tenho de pagar pelo seguro de responsabilidade civil.

Vamos agora fazer as contas, se tivesse um contrato em que ganhasse 600 euros brutos: 600 euros x 14 meses (12 meses e subsídio de ferias e natal) = 8400 euros x 0,755 (tirei 13,5 IRS e 11% Segurança Social) = 6342 por ano dividindo por 12 meses dá cerca de 528,5 euros.

Eu, sinceramente, preferia o contrato porque tenho direito quase a um mês de férias, a adoecer e tenho segurança no trabalho. Perante estes valores que vos referi, não dá que pensar?

Porque não fazemos uma petição online ou circulamos assinaturas ou vamos para a rua pedir às pessoas (eu voluntario-me) pedir para este assunto ser levado à Assembleia da República, porque sinceramente o que eu ganho parece muito, mas dá que pensar.
Tirei um curso superior de Fisioterapia, mas sinceramente prefiro ingressar noutra profissão, pois quero casar, quero constituir família e não é com um ordenado destes que vou poder ter a estabilidade que imaginei ter.

Acham que ganhar 1000 euros a contrato para um profissional de saúde que arrisca a vida, que dá tudo para fazer o melhor por 1pessoa, que cuida de pessoas, que se responsabiliza, mas sinceramente não me importava até de ganhar 800 euros a contrato brutos por mês na minha profissão, pois ao menos tinha segurança no trabalho que exercia e teria boas condições. Agora sim dá que pensar.

Vamos todos reflectir e fazer algo pois já estou farto desta porcaria dos recibos.

Anómimo

05 julho 2007

Testemunho

Parabéns pela iniciativa e obrigada por darem voz aos “trabalhadores por conta de outrem” que, se quiserem trabalhar, precisam se sujeitar aos tais recibos verdes.

Vou contar-vos uma breve história, diferente das que todos já sabemos que acontece: trabalhei com hora para chegar à empresa, hora para sair, e tinha, inclusive, um chefe!

- E sabem o que nos fizeram, a nós, colaboradores a recibos verdes?

- Não nos convidaram para a festa de confraternização de Natal da empresa, porque não éramos considerados funcionários!

Vejam a que ponto chega os empresários portugueses! Chega a ser ridículo, não é?


Anónima - Gondomar

03 julho 2007

Testemunho: Clínica Médica

Gostaria de vos expor a minha situação de trabalho, melhor dizendo pagar para trabalhar.

Estive desempregada durante dois anos e consegui arranjar trabalho, em Fevereiro deste ano.
Estou a trabalhar numa clínica, em Guimarães, desde o dia 16 Fevereiro, como assistente dos consultórios, em regime de part-time que vai de 4 a 8 horas diárias.

Só seria aceite naquela empresa se passasse recibos verdes. O valor pago por hora é de 2,50 € e, como não tinha trabalho, aceitei.

Fui às finanças colectar-me (código 1519-outros prestadores de serviços) e, logo de seguida fui à Segurança social. Aí fui surpreendida com a notícia de que teria que pagar à Segurança Social o valor de 128 € mês (se optasse por regime alargado) ou 185 € mês (se optasse regime obrigatório) não tendo direito à isenção porque já estive colectada há mais ou menos cinco anos.

Para obter uma isenção teria que ter valores inferiores a sies salários mínimos (um valor anual de 2.315,00€)

Para redução teria que ter valores inferiores a dezoito salários mínimos e escrever uma carta à Segurança Social, sob compromisso de honra, referindo que não ia auferir, no ano de 2007, um valor superior a 6.000 €. Este pedido poderia ser ou não aceite.

Fazendo contas:

2.50€/hora x 4 h (dia) x 20 dias úteis= 200 € mensais


2.50€/hora x 8 h (dia) x 20 dias úteis= 400 €
Esta situação acontece desde o dia 11.06.07, porque a clínica tem pessoal de férias e eu estou a substituir.

Recebi carta da Segurança Social a dizer que o meu pedido de isenção foi deferido e o valor que devo pagar é de 74,17€ mensais.

Até hoje, 26.06.07, não paguei nada. Sinto-me indignada, revoltada.....

Tinha que percorrer 20 km diários para chegar ao local de trabalho o que dava em média, por mês, de 80€ em gasolina. Não podia ir de autocarro porque os horários não eram compatíveis.

Casei no mês passado. Pedi me facultassem uns dias de férias para a minha lua-de-mel: tirei nove dias úteis. Não dava para mais porque o pessoal da casa tinha que ir de férias.
Mudei de residência e agora estou próximo da clínica que vou a pé.
Fui vivendo com ajuda dos meus familiares mas como entendem não é fácil viver assim...
Anónima - Guimarães

José Milhazes, TSF: Mais um caso bem sucedido!


O jornalista José Milhazes vencou um processo contra a TSF.O texto apresentado de seguida consta no seu blog: http://darussia.blogspot.com/

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O último número da revista semanal "Sábado" publica o seguinte artigo na página 34:

"TSF CONDENADA”

O jornalista José Milhazes venceu um processo contra a TSF. A decisão do tribunal, datada de 25 de Maio, condena a estação de rádio a pagar ao Estado cerca de 130 mil euros, correspondentes a 16 anos de descontos do jornalista que não foram feitos para a Segurança Social.

Só há quatro anos é que José Milhazes, que vive na Rússia há mais de três décadas, constatou que não tinha registos de contribuições ao Estado.

Reclamou junto da TSF, mas esta negou a existência de um vínculo formal com o jornalista, que sempre considerou como um mero avençado. De facto, não havia um compromisso escrito, mas uma vez que Milhazes desenvolvia desde há vários uma actividade regular na empresa, auferindo mensalmente uma soma fixa, o tribunal considerou que a empresa tinha a responsabilidade de efectuar os descontos”.


Resta acrescentar que o Tribunal obrigou a TSF a pagar outras indemnizações, mas a direcção dessa estação de rádio decidiu recorrer da sentença.

Ela tem direito a isso, mas eu não vou desistir de lutar pelos meus direitos e pelos direitos de outros correspondentes portugueses no estrangeiro. No fundo, apenas quero demonstrar que somos tão jornalistas como aqueles que exercem essa profissão no nosso país.

O meu advogado, João Antunes Milagre, tem-me apoiado desde o primeiro dia do processo e vai continuar a defender-me.

Quero agradecer particularmente aos meus camaradas jornalistas da TSF que tiveram a coragem de ir ao Tribunal do Trabalho defender-me. Nenhum daqueles a quem me dirigi se recusou a depor. Tive mesmo de reduzir a lista de jornalistas daquela rádio que manifestaram a disponibilidade para me apoiar no Tribunal.

Quando houver novidades relevantes quanto a este processo, os leitores deste blogue serão os primeiros a saber.

02 julho 2007

Um caso bem sucedido!

Escrevi-vos há cerca de um mês a contar a minha triste história de 16 anos a recibo verde numa empresa de Engenharia.

Bem, hoje volto a escrever-vos a contar que pelo menos eu já me livrei dos malfadados "falsos" recibos verdes e porque tive que esticar a corda.

Meti a empresa em Tribunal mas acabei por não levar até julgamento porque (palavras do Juiz) arriscava-me a esperar cinco anos por uma decisão e no fim podia ficar a chorar.

Assim, aceitei um acordo miserável e deixei a empresa. Felizmente, na mesma semana, em que fiquei desempregado voltei a arranjar emprego e desta vez não é a recibo verde.

Continuem a vossa luta que eu continuarei a acompanhar.

Anónimo - Rio Tinto