20 novembro 2008

Testemunho: Arquitecta com cancro

Arquitecta há mais de dez anos (a recibos verdes claro) num atelier internacionalmente reconhecido, deparo-me agora com uma situação que nunca passei atravessar: um cancro de mama.

Sempre descontei para a segurança social (do meu bolso claro) e esta oferece-me agora uma "baixa" ridícula: posso ficar em casa até 12 meses, sem pagar a prestação à Segurança Social e sem direito a qualquer tipo de remuneração.

Deve-se ter em conta que um tratamento oncológico deste tipo demora cerca de um ano e meio... e a pseudo-baixa é de um ano!

No entanto, se trabalhasse por conta de outrem a mesma baixa poderia alongar-se até três anos. Deduzo então que o Estado parte do princípio que os profissionais liberais (forçados ou não) têm mais saúde e podem alegremente trabalhar entre quimioterapias e nos pós-operatórios.

Vivo neste momento da caridade. Da família e da entidade patronal, apesar das suas ameaças de despedimento. Para que não seja despedida tenho ido trabalhar quando na verdade só me apetece ficar em casa a descansar e a enjoar...

Para além do processo de cura ser doloroso, passo os dias a pensar que não escolhi ter um cancro mas alguém escolheu não me fazer a m**da de um contrato de trabalho e, mais uma vez, não posso contar com o Estado.

Acrescento ainda que tenho um bebé.

Vou iniciar uma acção jurídica contra a "entidade patronal" pois acredito que todo o dinheiro que me devem será o meu meio de subsistência nos próximos tempos.





27 comentários:

Anónimo disse...

Olá. Primeiro, lamento a doença que a atingiu e faço sinceros votos para uma recuperação rápida, total e completa. Segundo, só queria aconselhá-la a procurar um bom advogado, especialista em direito de trabalho, para iniciar o seu processo jurídico contra a entidade patronal. Terceiro, lembro-lhe que um bom advogado custa dinheiro e talvez fosse melhor poupar esse dinheiro para tratar a sua doença. Quarto, ninguém me pediu a opinião, só queria ajudar, mas a verdade é que a vida é sua e é você que decide, por isso, só me resta desejar Boa Sorte e muitas Felicidades para o seu futuro. Fique bem.

Anónimo disse...

Bom dia,

Tenho consciência que pouco posso fazer, mas gostava de lhe dizer que não está sozinha. Acho muito bem que mova esse processo contra a entidade patronal e sei que vai ganhar. Outra coisa que pode fazer, se não se importar de se expor, é falar com os meios de comunicação social. Acho que o seu caso merecia ser visto e comentado, numa altura em que se fala tanto de pessoas de baixa que são mandadas trabalhar mesmo sem poder.

A diferença é que no seu caso, nem sequer tem direito a baixa... :-(

As melhoras.

Ricardo Ramalho disse...

Estas situações tresandam do nojo que metem...

Para as entidades patronais somos um número, uma estatística, e sempre o mais precários possível.

Faço votos que consiga vencer a doença e que ganhe a acção em tribunal.

Anónimo disse...

Não percebo que raio de segurança social temos, para nós é apenas uma instituição que nos leva uma boa quantia do ordenado todos os meses, e quando precisamos dela, é o que vemos neste triste caso. Acho que faz bem em mover um processo contra a sua entidade patronal, penso que deve ir ao tribunal do trabalho, aqui poderá não ter que pagar a um advogado privado.
A sua situação é absolutamente revoltante, de entidades patronais duvidosas está este país cheio, o que realmente me admira é não ter qualquer apoio da (in)segurança social.
Por fim, desejo-lhe sorte e muita força.

Anónimo disse...

Os meus sinceros desejos de melhoras rápidas e que lhe força, muita força para lutar. Não tenha receio de pedir o que é seu. Não se faz a um ser humano o que lhe estão a fazer. Exponha o seu caso, como foi sugerido aqui, na comunicação social.
Felicidades sinceras.

Noémia disse...

Não vou acrescentar nada ao que os outros disseram antes de mim, desejo-te muita força para enfrentares e venceres a doença (trato-te por tu porque provavelmente és mais jovem do que eu e para enfatizar o sentido de solidariedade que sinto por ti).
Esse teu empenho em lutar, é fantástico. Eu, no teu lugar, provavelmente baixaria os braços. Força!!

Anónimo disse...

Cabe-me recordar o "caso" da advogada do escritório de um ex bastonário da ordem dos advogados - http://sic.sapo.pt/online/noticias/pais/Escritorio+de+Jose+Miguel+Judice+processado.htm - onde a "resolução" do litígio laboral , determinava segungo a mesma um afastamento implícito de oportunidades de trabalho no mesmo sector ( especificidade da classe, tal como aconteçe com os jornalistas etc ).

Tendo em conta a demora dos tribunais de trabalho, só para dar o exemplo da capital deste estado membro, uma acção demora 2 anos até começar a ser Julgada : http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php?headline=98&visual=25&article=332246&tema=27

Resolver o problema de saúde, porventura usando a mobilidade europeia recorrendo a outros SNS na Europa, e aprender espanhol para emigrar serão pontos a merecer mais atenção do que a acção, legítima, justificada e ressarcidora dos sentimento agora sentidos, mas na prática, insolúvel na esfera do litígio laboral.

Cumps, Paulo Dinis
P.S. E dizer que o Governo socialista Espanhol alargou o regime de protecção social aos precários do país vizinho.

Anónimo disse...

Um abraço muito solidário!
Como mulher e mãe sinto uma enorme empatia com a sua situação.
Ultimamente muitas figuras públicas e com "peso" tem dado a cara para ajudar a dar FORÇA ás mulheres que estão ainda num processo de cura..que tal contar a sua história a uma delas???
Que tal contar a sua história á sociedade em geral num orgão de comunicação???
Não tenha medo de dizer o NOME desse iternacionalmente execrável atelier!!!Temos que os denunciar para isto parar de vez.
Talvez nalguns países mais humanizados esse execravel atelier não voltasse a ter nome!!!!
APAV-a violencia assume muitos contornos e isso que lhe estão a fazer é uma violencia!!!Entre outras coisas eles aconselham,orientam e tem consultadoria e acompanhamento juridico!!!!
Não quero falar de cor e nem sequer sou catequizada em partido nenhum mas a Drª Odete Santos uma grande advogada deste país,defensora da causa Mulher e da causa igualdade de direitos poderia ajudar juridicamente falando.

Saúde!!!!vai conseguir!
Abraço
POLAR

Marta disse...

Olá.
Antes de mais queria desejar-lhe as melhoras e endereçar-lhe uma palavra de força e esperança...
Quanto à sua mensagem, que me sensibilizou, tomei a liberdade de reencaminhá-la para os mails dos grupos parlamentares para, mais uma vez, lhes "abrir os olhos" para a realidade do trabalho precário. Espero que não se importe (nem sei se já o tinha feito), mas penso que é o melhor caminho a tomar, mesmo que os efeitos práticos sejam escassos ou nulos.
Estou totalmente solidária consigo, não só por também eu me encontrar a recibos verdes há seis anos, mas porque tenho consciência que em qualquer altura poderei estar em situação idêntica à sua.
Cumprimentos.

Janette Silva disse...

Olá, só para dar uma palavra de força para as novas duas LUTAS! Tenho a certeza que sairá vencedora em ambas!
Um agraço amigo,
Inês Dias

Anónimo disse...

A minha intenção não é de todo dramatizar este espaço de partilha mas sim de esclarecimento a todos os que se preocupam com esta situação dos recibos verdes. Relembrar-vos da nossa fragilidade, neste caso nada opcional.
Quanto à divulgação, certamente não me importo caso contrário não escreveria para o FERVE. Agradeço só que não coloquem o texto naqueles mails de corrente pois no meu local de trabalho seria facilmente identificavel...
Obrigada a todos pelas palavras de apoio pois fazem-me sorrir :)

A arquitecta

Anónimo disse...

o estado tem apoios para pessoas com cancro,procure na segurança social acho que sao 178 euros,é pouco mas se exite beneficie dele quem precisa

Anónimo disse...

no tribunal de trabalho patrocinam todos os desempregados só se quiserem precisam de contratar advogado
se nao tiverem recursos peçam apoio judiciario na segurança social

Anónimo disse...

existe uma linha de apoio que esclarece os seus direitos é 808255255 como doente de cancro espero ter ajudado

Anónimo disse...

O que mete raiva eh existir uma Ordem que nao resolve os problemas dos arquitectos.

Anónimo disse...

No nosso pais pagam-se reformas a mortos - reformas de viuvês - a muitos que não necessitam e não se apoiam os vivos e necessitados. A vida perdeu valor. Por culpa dos que acham que só a liberdade conta.

Fará parte das minha orações

Hugo Fernandes

Anónimo disse...

http://aida-guimaraes.blogspot.com/2007/05/servio-nacional-de-sade-taxas.html
encontrei este blog que informa sobre todos os direitos dos doentes oncologicos espero que te ajude

Anónimo disse...

Obrigada por todas as informações mas acreditem que estou muito bem acompanhada: um namorado advogado e as assistentes sociais do IPO que são incasaveis. De qualquer modo, continuo a passar os tais recibos verdes pois ainda trabalho mas quando for em frente com a acção vou tentar todos esses mecanismos de apoio.
Obrigada.
bjs
Anónima

Anónimo disse...

Uma vergonha, sinceramente. Mas ninguém ensina a esta gente que os trabalhadores devidamente incentivados e protegidos trabalham melhor? E a "solidão" que deves sentir, mesmo acompanhada. Solidão por um País que nos abandona, que não nos dá direito a ter doenças ou vida própria, que não premeia o trabalho, mas o ócio. Tenho vergonha! Sinceros votos de coragem para ultrapassar tudo.

Anónimo disse...

Não consigo perceber como é que uma entidade patronal, seja ela qual for, tem o descaramento de pôr uma pessoa com uma doença de tal gravidade a trabalhar sob ameaça de despedimento. É simplesmente atroz.

Anónimo disse...

Além de todos os votos de melhoras e de muita força na sua doença, partilho consigo que também trabalhei 15 anos a recibo verde em instituto do estado. Recebi o diagnóstico de cancro em Dezembro de 2006. Continuei sempre a pagar a segurança social (só pude estar mês e meio a descansar de uma pneumectomia, sob pena de perder o lugar). Tive de rescindir contrato no início deste ano. E depois de ter voltado a trabalhar um mês, tenho de repetir a façanha. Sei (e diz-se) que existem apoios, mas não são aplicados. Tudo é muito lindo, mas nada se aplica aos independentes. Nem uma ambulância tive para me deslocar 120 km a fazer um exame. Com base nos rendimentos anteriores sou considerada "Não-necessitada" (cerca de 11000 euros ano). Espero sinceramente que consiga aceder aos seus direitos, prepare-se para a luta e escolha bem o seu advogado. Eu vou recomeçar/continuar com a quimio, depois de mais operações e largos meses sem trabalho. Como de qualquer modo quem ajuda são os pais, vou finalmente dar baixa da actividade. Prefiro engrossar o grupo de população não activa. Não podemos dar-nos ao luxo de andar a pagar os dias do intervalo dos tratamentos, não é? Preciso desse dinheiro para comer.
Muita força e muita vontade de vencer. Não se esqueça que em primeiro está a sua saúde, depois os parasitas do sistema (m***a para os senhores lá de cima).
Grande abraço da Susana

Anónimo disse...

Olá Susana. Infelizmente é uma companheira minha, de várias lutas pelos vistos.
Percebo que a minha batalha mal começou: estou a meio da quimioterapia e ainda não fiz a intervenção cirurgica por se tratar de um tumor de grandes dimensões e, por isso, ainda não me sujeitei a junta médica pois já me avisaram que ainda não sou "incapacitada". E essa incapacidade não sei se garantirá todos os apoios pois o meu salário era ligeiramente inferior ao seu...o que tenho a certeza é de que não me garante um emprego!
No entanto conto com o FERVE para ir divulgando as supresas de um trabalhador independente ao longo de um processo de cura de cancro.
Espero que para si a cura esteja próxima e com um final profissional brilhante, preferencialmente longe da alçada do estado que mais uma vez é o primeiro a desiludir...
Conte ainda comigo para partilhar informação ou simplesmente para conversar.
Beijos.
A arquitecta

Anónimo disse...

Cara Amiga e colega,
(aparte tudo o resto, que espero vá melhorando)eu já fui a uma junta médica. No centro de saúde não souberam informar-me de nada, pois nunca tiveram um caso assim. Foi o IPO que me tratou de marcações e tudo o que era necessário. O objectivo é "benefícios fiscais": posso comprar um carro adaptado (quando tiver dinheiro), posso comprar o dístico para estacionar naqueles poucos lugares para deficientes motores (usualmente ocupados por obesos de bigode), posso ter benefícios no empréstimo para comprar casa, mas não tenho emprego nem trabalho, posso alugar casa mais facilmente, mas o problema persiste. Foi-me atribuída incapacidade de 80% dezoito meses depois do diagnóstico. Mas nem tudo é mau: recebi o reembolso do irs de 2007. Como só trabalhei 2 meses este ano...nem sei onde guardar a fortuna que virá lá mais para o verão de 2009! Ah, sempre estive no regime alargado da segurança social, logo teria direito a baixa prolongada. Só tive praticamente das semanas em que fazia tratamento. Os restantes dias passava-os em casa de meus pais, que cuidaram e continuam a cuidar de mim, logo, em morada diferente.Logo, paguei-os, tal como o seguro obrigatório. Tenha cuidado com isso por favor, informe-se como deve fazer, caso tenha de se ausentar, pela sua sanidade mental. Por mais cansada que esteja, peça e pedinche sempre tudo e todos os documentos a que tem direito, por vezes quem nos atende não sonha da importância que 100 euros têm.
Peço desculpa pelo post tão longo, mas como já tropecei em algumas coisas menos positivas, gostava que não acontecesse a mais ninguém.
Um grande abraço cheio de força, Susana

Anónimo disse...

Pode ir ao Ministério Público apresentar queixa!! Tratam de tudo e não tem que pagar! FORÇA!!!!! Estão a dever-lhe imenso dinheiro!!!!

El Mariachi disse...

Peço-lhe tanta força porquanto lamento que, na saúde e na doença, até o casamento se rege por um contrato.
Imagino o arraso psicológico que a doença acarreta adicionando-lhe, ainda, essa pesada parcela à equação que é não poder contar com quem pode contar consigo.
Chamo a mim aquilo que poderá ser egoísmo, ao pensar que tal me pode acontecer a mim ou a quem me é mais próximo, não obstante o facto de, por isso mesmo, desejar, com a mais sincera das esperanças, que a sua recuperação seja rápida e total.
"Temos de ser uns para os outros" é a máxima que, afinal, rege a lógica da Segurança Social. Mas atrevo-me a reformulá-la: "Temos de ser todos para Alguns".
Sendo que neste caso, e durante esse tempo que refere, descontou para outros. Ninguém descontou para si.
Sem quaisquer bases legais, aconselho-a, pela Lei Minimamente Humana, em deixar de descontar para a Segurança Social, como forma de protesto. Espere que tudo vá a tribunal e explique as suas razões. Um Estado que abandona, desta forma, os seus cidadãos, é um PULHA que não merece respeito!!!

Anónimo disse...

Só há uma coisa a fazer, emigrem. Portugal é bom paa férias, compradas no estrangeiro, claro, que fica ais barato.

Marco Lucas disse...

Tenho imensa pena da fase que está a passar. A vida ás vezes é tremendamente injusta. Espero que melhore e que encontre forças e meios para ir em frente. do fundo do coração...