20 novembro 2007

Testemunho: Comercial

Trabalho a recibos verdes, há dez anos, num grande grupo internacional de produção e comércio de produtos alimentares. Tenho uma base de 221€, consoante o número de dias de trabalho por mês; o restante rendimento que tiro é referente às comissões das vendas realizadas nos clientes atribuídos à minha rota sendo de 8,10,12,14 %, consoante o tipo de cliente. As comissões têm vindo a baixar, visto que no início eram de 15, 17% respectivamente.

A estrutura da empresa impõe um supervisor e um gerente de zona na região mais um key-account das contas nacionais; todos eles nos dão ordens directas, tais como promoções, limites de descontos e o preço final dos produtos. A viatura que utilizo é minha, mas o produto que carrego é-me atribuído, sendo emitida diariamente pela empresa uma guia de transporte sobre os produtos.

Sendo esta situação, temos um horário de entrada e uma rota estipulada pela empresa. Nos clientes conta nacionais, temos visitas diárias. Se faltarmos a algum cliente sem justificar, este é-nos retirado. Neste momento, é moda o vendedor ser substituído na área se, durante três meses, não cumprir pelo menos 6/9 dos objectivos do trimestre.

Este objectivo é válido para todos os empregados (a recibo verdes ou com contrato a termo certo). Ou seja, temos as mesmas obrigações e deveres perante a empresa e os clientes, mas direitos diferentes: sem subsídios de férias e Natal, sendo todos os custos com as viaturas, seguros, e descontos da nossa responsabilidade.

Cada vez é mais difícil trabalhar assim. Há uns anos, fiz frente à empresa e fui dispensado, tendo de voltar a trás com a minha queixa: só assim mantenho o emprego.

Está na altura de o Estado fazer cumprir a lei perante estas empresas que trabalham à margem da lei, intocáveis e sempre no contorno da mesma.

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