02 maio 2007

Testemunho

Venho por este meio prestar as minhas sinceras homenagens a este blog, que teve a coragem de denunciar e vincar esta vergonhosa situação de muitos (de mais) "pseudo" empregados, funcionários, empresarios, trabalhadores, ou como lhe queiram chamar. (uma vez que somos independentes certo?)

O meu ingresso "a sério" no mundo do trabalho deu-se por volta de 2005 com uma proposta de emprego, temporário por 3 meses numa prestigiada empresa de consultoria. ( Que melhor começo de vida pode querer um jovem licenciado???)

Essa dita empresa, colocou os pontos nos i's e avisou-me que se tratava de uma relação a recibos verdes pelo que, se as coisas evoluíssem a bem, efectuariam contrato de trabalho. Um pormenor: estaria a trabalhar a cerca de 250km de casa.

Ao fim de 3 meses, coloquei a questão de como seria o meu futuro, ao qual o meu director disse-me para ficar descansado, que estava a fazer um bom trabalho e o mais certo era fazerem contrato. Toca de trabalhar.... Ao fim de 9 meses e de muito trabalho num dia sempre bom para se dar noticias (2 de Janeiro) recebi a melhor boa nova que se pode esperar num início de ano novo, a partir daquele momento estaria dispensado.

Eu que até era o maior defensor do "vestir a camisola" do local onde estava a trabalhar, levei um redondo pontapé no traseiro e nem "agua vem nem agua vai". A partir daquele momento prometi a mim mesmo que nunca mais na vida vestiria camisola de ninguem!

Durante o período de desemprego, e na minha boa fé, mantive a actividade profissional aberta, uma vez que sou formador e poderia surgir uma oportunidade de formação a qualquer instante, ao fim de 8 meses sem emprego e com a actividade aberta, recebo a informação que estava a divida para com a segurança social em cerca de 1000€!!!! Por ter actividade aberta e não ter recebido no decorrer desses 8 meses 1 cêntimo que seja.

Perguntei à funcionária da SS:
- Mas eu não estive a trabalhar durante este tempo, posso provar com o meu IRS ou a caderneta de Recibos Verdes!
A funcionaria:
- Peço desculpa mas terá de pagar, pois não pode provar que não esteve a trabalhar durante esse período. Lei é lei e é para todos, e todos têm de cumprir.

Amavelmente, sugeriu-me que podia pagar a divida em suaves prestações.

Agora estava desemprego, e com uma divida a braços, por uma algo que não fiz! Sim, eu sou um dos caloteiros da Segurança Social, e digo mais, não irei pagar aquela dívida, porque é injusta, mesquinha, e sem bom senso.

Outra situação à qual me indigno é o facto de não podermos colocar despesas no IRS. À excepção das relacionadas com a saúde e educação, se estivermos a trabalhar a 250km de casa e tivermos despesas com gasóleo, alojamento e alimentação, pura e simplesmente não podemos colocar essas despesas afectas à nossa actividade profissional no nosso IRS, Pergunto Por quê? Sou tão diferente de um outro empregado, funcionário, trabalhador ou empresário qualquer? Até trabalho de forma independente!!! Mais, e em relação à assistência de saúde? e às baixas médicas? E ao subsidio de desemprego? Será que somos trabalhadores de 2.ª categoria? Não fazemos os mesmos descontos? Por vezes até fazemos mais….

Mas a culpa desta situação prende-se muito com as actividades ditas 1.ª.
Por exemplo se eu for a um médico, e a consulta me custar 100€ sem recibo pode rondar metade, o mesmo se passa com os advogados, por isso, esses profissionais de primeira declaram o ordenado mínimo, mas vivem num condomínio fechado e andam de Ferrari e eu levanto-me às 6 da manha ando de transportes públicos e chego a minha casa, perdão à casa dos meus pais por volta das 22 horas.

Actualmente, continuo a trabalhar a recibos verdes, mas "felizmente" consegui um contrato de trabalho paralelo ao qual consigo conciliar os 2 locais de trabalho e sempre me poupa uns euritos na segurança social, mais um pormenor, para trabalhar nestes 2 locais de trabalho faço semanalmente em média 1000km, sim não me enganei mil km. No final do mês conto os cêntimos para um café e um maço de tabaco.

E isto é um pequeno apontamento de um jovem licenciado, quase a fazer 30 primaveras, que ainda vive em casa dos papás, sem perspectivas de num futuro profissional próximo poder constituir família (casar, comprar casa, carro, filhos, educação etc etc).

O que me consola, ainda é o meu optimismo e vontade de trabalhar. Sim trabalhar, pois ou é esta vida ou ficar em casa à espera que surja um trabalhito à porta de casa e entretanto passar a vida na Internet e nos hi5's como ainda muitos jovens licenciados andam.

Assinado: Um dos muitos da "Geração Rasca"

4 comentários:

Art d'Imaginar disse...

Diria que esta história não me é de todo estranha... talvez porque os Recibos verdes também já me fizeram perder algumas horas de sono, qdo poderia estar no puro descanso...
E porquê? porque as condições que me foram colocadas num primeiro emprego, com rec verdes, eram simplesmente degradantes.
Cenário: R.Vrds durante um ano, c valores no recibo q n correspondiam ao que recebia. O pretexto era sempre: "no fim do contrato fazemos os acertos".
Enquanto isto, a minha ingenuidade acreditou que havia uma palavra sincera ali.
Chegou o momento de fazer contas aos rendimentos anuais... e ai está a boa nova: PAGAR IRS!!
Não sei explicar estas coisas, ate porque, por mais que tente n entendo ainda se existem direitos, ou se existem só obrigações que dizem:
-descontar % p irs
-descontar % p seg social.
-descontos disto e daquilo
Não esquecendo q enqto fazemos esses descontos todos, continuamos fora do local de residência(na maioria dos casos), o q implica despesas com: alojamento, agua, luz, gaz, deslocações, alimentação, vestuário (autênticas mordomias)!!
Algum tempo mais tarde, ja sem recibos verdes, recebo carta a avisar q devo pagar "x" euros em divida à seg social, de uma data qq, bem posterior ao cancelamento da actividade!
Não há portanto, cruzamento de dados entre rec verdes e seg social... logo se eu n for avisar á Seg. social q abri actividade, eles nunca irão saber...
Afinal, que país é este?!
Terceiro mundista?!
Onde estão as legislações p seguir? é q nunca se consegue esclarecer uma duvida com estes órgãos (in)competentes, porque uns respondem "sim" outros "não" e outros "nim"!

Ass: mais um elemento da "geração rasca"

2 ao Quadrado disse...

Tenho 30 anos, também sou uma formadora no desemprego e também passei pela mesmíssima situação de dívida à Segurança Social... É muito triste.
Ass: e ainda mais outro exemplar da «geração rasca»

Anónimo disse...

Tal como foi relatado a mim querem cobrar 1942€ pela mesma situação mantive a actividade aberta enquanto não estive a trabalhar e agora querem que eu pague o montante dem divida.
Enfim é o país que temos e as leis mais mal feitas que já vi.
Era simples nos meses em que nao havia recibos verdes passados não se pagava segurança social bem mais facil. Mas como o governo quer é dinheiro entao toca de meter tudo a pagar.
A geração rasca tal como eu com 22 anos que temos de pagar as trapalhadas que andaram a fazer!!!

Tia Maria disse...

Carissimos, já disse isto em varios posts: EMIGREMMMMMMMMMMMM.

Não percam mais tempo com Portugal, não vale a pena.

Eu já desisti e se soubesse o que sei hoje, tinha saido não há 3, mas há 10 anos.

Foram 5 anos como formador e 2 como eng. inf. a RV.

Eu também fui ingénuo e acreditava que as pessoas era boas.

Mas depois, fui obrigado a crescer e a ver o mundo como ele é.

Portanto, EMIGREM e não pensem mais nisso.

Cumprimentos da terra das tulipas onde não há RV e as empresas são obrigadas a pagar as despesas de deslocação para o trabalho