24 outubro 2011

REPORTAGEM: DE MALAS FEITAS CONTRA A PRECARIEDADE

O jornal Correio da Manhã publicou uma grande reportagem sobre a vaga de emigração regista em Portugal, designadamente de jovens licenciadas/os. Podem ler de seguida uma parte da reportagem que se encontra na íntegra aqui.


Mais de 68 mil dos desempregados em Portugal são jovens licenciados. Desses, um em cada 10 vai emigrar, segundo dados da OCDE, e se contabilizarmos o número de portugueses que concluíram a formação superior nos países de destino, a percentagem de emigrantes com este nível de habilitações é de 20% dos 2,3 milhões que estão emigrados.

Somos actualmente "um país de fuga de cérebros", afirmou o sociólogo Rui Pena Pires, autor do livro ‘Migrações, Minorias e Diversidade Cultural’. Gente que abdica da família, dos amigos, do sol e da sua zona de conforto, rumo ao desafio e ao encontro da ‘luzinha ao fundo do túnel’. De uma vida sem o peso da frustração. De uma oportunidade de carreira efectiva e não precária e intermitente. Da possibilidade de um futuro que de facto seja digno desse nome porque no seu país, simplesmente, não o encontrou.


PLANEAR EM LONDRES

André Filipe Pinto protagonizou um desses casos em que a tremenda desilusão com a falta de oportunidades em Portugal acabou por fomentar um caso de sucesso em Londres. Licenciado em Geografia, Planeamento e Gestão do Território, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, após o curso procurou trabalho durante ano e meio em Portugal, mas sem sucesso.

"Em ano e meio fui a uma única entrevista para geógrafos e licenciados na área do planeamento, a única vaga que soube ter aberto, mas não consegui colocação. Continuei com o meu trabalho dos tempos de estudante, em telemarketing, mas agora a full-time, e alguns projectos ocasionais na área da Geografia, conseguidos a partir de contactos da Faculdade, voluntariado, e professores que acreditavam em mim", relembra. O esforço era, porém, infrutífero, quer no que diz respeito à sobrevivência, quer para o projecto de carreira que André tinha idealizado para si. "Posso dizer que entre trabalhos de campo e Censos 2001, a minha especialidade estava a tornar-se questionários e pouco mais", lamenta.

O desafio de cruzar fronteiras partiu de dois amigos mais chegados e André não se fez rogado. Viajaram juntos, rumo a uma mudança que teve tanto de encantamento como de temor. André chegou assim a Londres em 2003, com a prioridade de encontrar trabalho em qualquer coisa que lhe permitisse comer e pagar as contas de imediato. Com calma, procuraria depois algo na sua área de formação, o que não tardou a acontecer. O sonho começava então a ganhar contornos de realidade e já com "a noção clara de que valeria a pena o investimento emocional e financeiro" começou a tirar mestrado no Planning Policy and Practice na London South Bank University.

Em Londres, André Pinto foi acumulando vasta e diversificada experiência na área do planeamento urbano, carreira que lhe estava vedada em Portugal. Trabalha actualmente no gabinete regional de Saúde Pública de Londres para o equivalente britânico ao Serviço National de Saúde como consultor de Planeamento e Regeneração Urbana.

"Numa cidade de crescimento populacional elevado como é o caso de Londres, eu tenho de assegurar que existem postos clínicos e hospitais nos locais certos, na altura certa e com as especialidades certas para servir a população local. Todas as decisões são coordenadas a nível estratégico, desde alterações no perímetro urbano, definição de áreas de expansão, até à orientação e localização de prédios e rede de transportes públicos", explica. A sua função não existe em Portugal e, por isso, não consegue estabelecer um comparativo quanto à remuneração auferida.

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