02 junho 2008

Testemunho: Assessoria de Imprensa

PRECARIEDADE LABORAL E DEPRESSÃO – PARTE I

Este tem sido um ano em grande:

- Fui despedida de um emprego que adorava (tinha um contrato renovável de 3 em 3 meses e foi decidido de um dia para o outro que iam extinguir o meu posto na empresa):

- Morreram-me dois animais que estavam comigo há anos;

- Fui operada de urgência, e ainda bem que tinha seguro de saúde, pois pela Caixa o tempo de espera são três anos;

- Fizeram-me uma promessa de emprego no estrangeiro, andei a gastar dinheiro em formação para estar preparada, e 10 dias depois de me enviarem uma proposta de contrato, disseram que afinal o mercado estava muito mau e que não era o melhor momento para contratar mais pessoas…

Enfim… mas como venho falar de precariedade laboral, vou-vos contar o que tem sido o meu percurso “profissional” nos últimos dois meses.

Perante a proposta de emprego que tive na Alemanha, deixei de ir a entrevistas e dediquei-me à formação. Quando de repente me disseram que afinal não havia lugar para mim (curiosamente, no mesmo dia em que voltei da cirurgia), fiquei tão desanimada que pensei em fazer uma pausa. Pensei que talvez devesse apostar em tirar outro curso ou coisa do género.

Eis que me deparei com um anúncio interessante: uma empresa estava urgentemente à procura de um estagiário para ajudar a organizar um seminário. O tempo de estágio seria cerca de mês e meio. Ofereciam o almoço e, no fim, a participação no seminário. Chamemos a esta empresa H.

Apesar de não ser nenhuma recém-licenciada (longe disso), enviei o meu currículo e fui chamada a uma entrevista. Logo na entrevista deram-me a entender que tinha horário de entrada, mas não tinha horário de saída pois o trabalho era muito. Pedi-lhes só para sair a horas na primeira semana, por causa do meu pós-operatório (tinha de ir ao centro de saúde fazer pensos), e depois disso duas vezes por semana, para continuar a ter aulas de línguas (já que tinha começado a aprender Alemão, então ia continuar). Perguntei-lhes em que é que ia consistir o trabalho concretamente, mas não me responderam (já não me lembro o que disseram na altura, mas esquivaram-se à pergunta).

Isto foi numa quinta-feira. Ligaram-me no domingo para começar a trabalhar na segunda. Fiquei toda contente: ia ganhar experiência na área de organização de eventos e ia poder colocar no currículo que tinha ajudado a organizar aquele seminário! Apesar de não ir ganhar dinheiro, comecei o estágio mesmo entusiasmada.

Um parêntesis: gostava, antes de continuar, de esclarecer que se tratava de uma empresa não só de eventos mas também (e principalmente) de gestão de recursos humanos, em que os fundadores vinham da área da psicologia e estavam mais que informados sobre temas como motivação de pessoas, psicologia do trabalho e por aí fora…


Logo no primeiro dia comecei a fazer telemarketing. Fiquei a saber que andavam há meses a fazer telemarketing e ainda não tinham conseguido nenhuma inscrição através daquela via. Também não fazia muito sentido… Quem é que se inscreve num seminário por telefone? Dei logo a minha opinião e perguntaram-me o que se deveria fazer em alternativa… Respondi que tinham de fazer mais força a nível de divulgação (publicidade ou assessoria mediática) e que, caso insistissem mesmo no telemarketing, então teriam de comprar bases de dados mais direccionadas a executivos (nas que nós tínhamos até escolas primárias apareciam). Claro que a ideia ficou em “águas de bacalhau”… Afinal o telemarketing não lhes custava quase nada, só pagavam as chamadas telefónicas, pois eram só estagiários a fazê-lo. As bases de dados, por sua vez, custavam entre 300 a 600€. E quanto à ideia da imprensa, responderam-me que não queriam mais divulgação porque já tinham uma agência de imprensa a trabalhar com eles…

Que raio estava a fazer eu ali? Não tinham visto o meu currículo? Não sabiam que o trabalho com a imprensa era grande parte da minha experiência?

Chocante mesmo foi descobrir, mais tarde, que afinal tinha sido “contratada” porque um dos estagiários ia sair… Já estava farto de os aturar. Friso que ambos os estagiários eram da área dos Recursos Humanos e nos últimos meses só faziam telemarketing das 9 às 19h (depois ficavam até às 20h30 a enviar e-mails e a actualizar as bases de dados).

Das pessoas que trabalhavam nesta empresa, as que estavam envolvidas neste projecto eram as que saíam mais tarde – curiosamente, os estagiários que não ganhavam um “tusto”. As outras limitavam-se a cumprir o seu horário. Rapidamente percebi que naquele lugar (que por acaso até foi recentemente comprado por um grande grupo empresarial) havia um belo poiso para algumas pessoas, enquanto que as outras eram tratadas como lixo.

Eu tinha sido chamada para “ajudar a organizar um seminário”. Não estava a fazer nada disso, só telefonemas. Quando dedicava algum tempo a coisas mais interessantes, como patrocínios, era rapidamente chamada à atenção. Se calhasse de, ao telefone, falar com um cliente que estivesse interessado em patrocinar, tinha de passar o contacto a uma superior hierárquica. Ou seja… nós só fazíamos o trabalho chato.

Como saía às 19h, comecei a ser pressionada para sair mais tarde. Entretanto, a estagiária que tinha sobrado depois do outro se ir embora começou-me a contar histórias escandalosas sobre a forma como era tratada ali. Isto tudo em duas semanas.

Comecei a entrar em stress total, e o pós-operatório começou a “dar para o torto” devido ao meu estado emocional e ao facto de passar horas sentada ao telefone.

Conclusão: expliquei que devido ao meu estado de saúde não podia continuar o estágio… e vim-me embora.

Mas a minha triste história ainda não acabou… Se tiverem paciência, leiam a segunda parte.


PRECARIEDADE LABORAL E DEPRESSÃO – PARTE II

Antes de entrar para a H., eu tinha respondido a um anúncio para Relações Públicas em que se exigia experiência em gestão de websites, em contactos internacionais e em acções de marketing. Pedia-se que o candidato dominasse o Inglês e, preferencialmente, o Alemão. Perfeito para mim, pensei.

Destaco que o anúncio pedia que a pessoa mencionasse o ordenado pretendido, o que eu fiz: pedi 1000€ líquidos (substancialmente menos que no meu antigo emprego).

Enviei o currículo e passadas umas semanas fui chamada para ser entrevistada. A empresa chamava-se T.

Quando lá cheguei, estavam três pessoas à minha espera (que intimidante). Fizeram-me várias perguntas, digamos, “normais” sobre o meu currículo e experiência, até que um deles se sai com esta “pérola”:

- Eu tenho uma pergunta muito fria para lhe fazer… Em quatro anos você trabalhou em cinco empresas diferentes. O problema é seu ou é das empresas?

Eu lá lhe expliquei que isso se devia ao facto de ter, no início da minha carreira, trabalhado como freelancer (quando comecei queria mesmo era trabalhar, queria lá saber se o ordenado era uma m**** e a recibos verdes ou “pela porta do cavalo”). Depois tinha tentado evoluir para uma situação mais estável, mas tinha acabado por ser despedida de uma multinacional.

O gajo deu uma gargalhada e exclamou:

- Afinal os recibos verdes eram mais seguros que o contrato!

Depois, paternalmente, explicou-me que eu era “nova demais” para procurar estabilidade (tenho 24 anos e apeteceu-me perguntar-lhe, a ele que certamente é do “tempo das vacas gordas”, se aos 24 anos ainda morava com os pais… quase que aposto que não). Muito pacientemente, disse-lhe que não procurava um emprego para a vida toda (não sou parva e sei bem que isso não existe, e mesmo que existisse eu não o quereria porque gosto de estar sempre a aprender), mas sim um contrato, com direito a segurança social, que é o mínimo que se pode pedir.

Deixei-lhes uma carta de recomendação da minha antiga empresa e referências a contactar caso eles (mesmo assim) tivessem alguma dúvida sobre a minha idoneidade.

Bem, no final fiquei a pensar naquilo e senti-me mesmo furiosa: «Quer dizer, o tipo acha que eu sou “nova demais para pedir estabilidade”, mas estranha que tenha tido vários empregos diferentes num curto espaço de tempo…????! Em que ficamos?»

Devia ter desconfiado do que viria a seguir, mas não pensei muito nisso – afinal eu tinha deixado claro que não queria trabalhar como freelancer se o trabalho era trabalho dependente…


Passados uns dias ligou-me um tipo a falar Inglês. Achei que seria o responsável do projecto (mais tarde soube que era um dos que me entrevistou a fazer-me um teste). Tive uma conversa com ele em que ele sublinhou que para aquele trabalho era importante o trabalho com a imprensa especializada, e se combinou que na semana seguinte faríamos um teste. A conversa correu bem, pois o meu Inglês é fluente (note-se que durante todo o processo eu estive a dar-lhes provas das capacidades que afirmava ter).

Lá estava eu na semana seguinte, com um portfolio com algum do meu trabalho, que incluía assessoria de imprensa, para que não restassem dúvidas sobre a minha experiência. O teste consistiu em mostrarem-me um dos produtos deles e pedirem-me para conceber uma campanha de marketing para aquilo e para traduzir tudo para Inglês. Deram-me duas horas.

Fiz o teste no tempo estabelecido. E tenho a certeza de que fiz um bom trabalho. Informaram-me então de que no dia seguinte iam fazer o teste a outro candidato, e que na segunda-feira seguinte me ligavam a dizer se tinha ficado ou não.

Bem, passou a segunda, passou a terça, e nada… Telefonei a perguntar o que se passava, mas não consegui falar com nenhum dos responsáveis. A pessoa com quem falei apenas me informou que “tinha havido uma alteração”.

Cheguei a casa e deparei-me com um e-mail “fantástico”, em que me explicavam que tinha surgido uma terceira candidata, “referenciada por uma empresa associada” (ou seja, com o chamado “factor C”), e que tinham tido de repetir os testes. Explicaram-me que continuavam com dúvidas, porque apesar de eu ter mais experiência em comunicação empresarial, a outra candidata falava “alemão, russo e japonês” (duas destas línguas nem vinham mencionadas no anúncio). Conclusão: tinham resolvido marcar uma entrevista confrontacional, com as duas ao mesmo tempo!

Mais uma vez, fiquei parva: estavam a marcar-me uma entrevista frente a frente com outra pessoa? Qual poderia ser a razão para aquilo quando já tinham feito testes às duas candidatas, testes esses que avaliavam competências em comunicação empresarial e em línguas? Pessoalmente tinha-lhes entregue um portfolio, uma carta de recomendação, e inclusivamente dado referências de pessoas para contactar. Qual era a dúvida agora?

Respondi-lhes que agora lhes caberia decidir o que era mais importante para o trabalho em causa: a experiência em comunicação empresarial ou as línguas (Russo e Japonês nem sequer vinham mencionados no vosso anúncio, apenas Inglês e Alemão). Mas frisei no fim do e-mail: “Parto do princípio que se me estão a convocar para mais uma entrevista é porque têm dúvidas que querem esclarecer numa avaliação justa e imparcial.”. E apareci lá.

Curiosamente, a outra candidata, a “Dr.ª Elisabete”, não apareceu. E curiosamente, não houve propriamente uma entrevista. A única coisa que fizeram foi expor-me as condições deles: 850€ por mês a recibo verde, durante três meses. Depois, se as coisas corressem bem, passaria a contrato.

Tinham-me feito ir lá três vezes, inclusivamente para fazer um teste cujos resultados eles iriam certamente aproveitar, para me proporem um ordenado inferior ao que tinha pedido, e com condições que já sabiam que eu não concordava. A minha primeira reacção foi perguntar o porquê dos três meses a recibo verde quando qualquer contrato já prevê o período experimental. O gajo (o mesmo que me tinha dito que eu era muito nova para querer estabilidade) gaguejou, disse que era uma política da casa, que todos os funcionários que trabalhavam ali tinham começado assim, e que não era agora que iam mudar. Perante a atrapalhação dele e uma justificação tão estúpida, deu-me uma imensa vontade de rir (se calhar para não chorar). Passei o resto da reunião com um sorriso de orelha a orelha, a dizer que sim a tudo, que concordava com tudo. Nem me lembrei mais da “Dr.ª Elisabete”. Disseram-me que me ligavam mais logo a dar a resposta.

Depois de tudo isto conclui que a “Dr.ª Elisabete” que falava “alemão, russo e japonês” e que tinha aparecido “referenciada por uma empresa associada” só podia ter sido produto da imaginação destes senhores, que tinham armado um plano altamente maquiavélico (não estou a gozar… é preciso ser sádico para pensar numa coisa destas) para me pressionarem a aceitar condições pura e simplesmente ilegais.

Como não tenho emprego, ainda considerei aceitar. Mas isso ia trazer-me uma série de problemas: ter de abrir actividade como trabalhadora independente (sim, porque quando trabalhei como freelancer tive sempre quem passasse os recibos por mim, ao menos), perder a oportunidade de ir a outras entrevistas… E tudo para quê? Para trabalhar para estes chulos, que nem têm outro nome? Para dar cabo da minha sanidade mental? É que quem faz uma coisa destas nas entrevistas, sabe-se lá o que será capaz de fazer quando tiver a pessoa mesmo a trabalhar lá… Não tenho condições emocionais para andar em esquemas marados.

Para mim era mais que claro que não tinham intenções nenhumas de me fazerem um contrato. Todas as vezes que me puseram a trabalhar como “colaboradora” da empresa com a promessa de um contrato futuro, enganaram-me. Será que eu queria cair noutra?


Resposta: NÃO. Porque apesar de nos últimos meses:

- Ter sido despedida de um emprego que adorava;

- Ter enterrado dois animais que para mim eram como membros da família;

- Ter sido operada, ter gasto imenso dinheiro e ter tido um pós-operatório que ainda hoje dura;

- Me terem feito uma promessa de emprego que depois foi retirada…


Eu:

- Sou inteligente, motivada, flexível e forte;

- Fui a melhor aluna da minha turma;

- Tenho um currículo e um portfolio de que me orgulho;

- Tenho uma família que não me vai deixar morrer à fome;

- E consigo arranjar uma coisinha melhor, nem que ainda demore algum tempo.

Hoje era o primeiro dia de trabalho. Liguei-lhes… e disse que tinha arranjado outro emprego.


Anónima

30 comentários:

Anónimo disse...

Empregada temporariamente ou desempregada indefinidamente?

Com perto da a sua idade, preferia o primeira opção!


E boa recuperação da sua operação.

Rui

Anónimo disse...

Acho que fizeste muito bem! Esses idiotas têm que acordar para a vida, se pensam que enganam todos com esses truques ridículos e doentios! Será que são alérgicos à honestidade? Enfim... Mais cedo ou mais tarde eles vão pagar pelas suas atitudes, podes acreditar nisso. Quem se rege por essa mentalidade não vai longe, nem na vida profissional nem na pessoal. De certeza que vai aparecer uma óptima oportunidade para ti, provavelmente no estrangeiro, que é onde sabem valorizar jovens motivados, com formação especializada e trabalhadores.

Anónimo disse...

Rui,

Respeito totalmente a sua opinião, mas lembro-o que por haver tanta gente a pensar da mesma forma é que o patronato se aproveita dos candidatos, especialmente dos mais jovens.

Como eu já disse por aqui, se todos nos uníssemos e recusássemos compactuar com este tipo de condições, as coisas teriam de mudar. Como não há união, não mudam - eu recusei, mas atrás de mim vem outro... Tenho consciência disso.

Infelizmente eu também já compactuei, já passei por situações das quais nem me quero lembrar, e pelas quais não quero tornar a passar. Primeiro porque a minha dignidade é prioritária, segundo porque o meu estado de saúde não me permite andar a aturar este tipo de escumalha.

Não sei se leu tudo o que escrevi, mas se armaram este esquema para me pressionarem a aceitar, é fácil de perceber que tipo de pessoas são e que outro tipo de esquemas se seguiriam... Já passei por isso tudo apesar de ser jovem. E sinceramente não me apetece passar outra vez. Prefiro conservar alguma sanidade mental.

Anónimo disse...

Concordo com a "acessora"... Eu próprio passei pelas mesmas lenga-lengas várias vezes, embora na àrea do Design.

Permitem que se faça de tudo... De tudo. Chegaram a exigir-me que aceitasse trabalhos de produção de conteúdos para internet e serviços móveis, a menos de 2,5€ por dia... A recibos verdes (eu sei que parece irreal), isto vindo de uma empresa que tem vários acordos com entidades conhecidas para produção e distribuição de merchandising virtual, ou, publicidade a materiais como dvds ou afins... E olhem que dinheiro não lhes falta.

Felizmente, consegui dar a volta por cima, e encontrar um local de trabalho onde consigo ser respeitado.

É frustrante saber que uma mulher a dias consegue com relativa facilidade levar para casa por mês, mais (ou até muito mais), que um licenciado... Independentemente da àrea em que este seja formado (salvo talvez na àrea da medicina ou de informática).



Não nos podemos compadecer com estas situações. Apesar de os meus tempos de estudante já estarem com alguma distância, por motivos profissionais, acabo por circular perto de alunos universitários. Choca-me ver a facilidade com que me diziam que eu estava a ser complicado... E que os pseudo-estágios curriculares (que de estágio não têm nada), eram excelentes para ganhar currículo e experiência e que me permitiam mais fácilmente arranjar uma boa condição laboral. É claro que lhes digo com alguma sobriedade que "ao fim de 3-4 anos a tentarem arranjar trabalho fixo e decente, quero ver como é que pensam quando só vos apresentam estágios, independentemente do currículo que têm", e aí, das duas uma: ou piram-se com a certeza de que quem acaba um curso tem automáticamente trabalho a ganhar 1500€ líquidos por mês, ou o ar de pesar da minha cara deixa-os a eles próprios com um ar bastante preocupado...

sapiens disse...

Porque o Flip disse que conseguiu encontrar um local de trabalho onde consegue ser respeitado eu deixava aqui a ideia. Uma vez que os precários inflexiveis já têm aqui no site vários vídeos apresentando "A precariedade no sítio do costume", eu sugeria que fizéssemos também o contrário para combatermos a precariedade também pelo lado positivo. Pessoalmente também já passei por más situações, não tão más como a maioria das que aqui são descritas, mas apenas porque recusei muitas propostas assombrosas. Hoje tenho um emprego onde me respeitam. Penso que estas situações são de enunciar. Ainda existem empresas que respeitam os trabalhadores e lhes dão condições de trabalho decentes, porque não colocarmos os seus nomes na praça? Fica a ideia.

Dalaiama disse...

Também li os comentários atrás e a ideia do Sapiens pode ser positiva.
Mas vim comentar principalmente porque não resisti: li cada palavra da história da 'anónima' e fiquei cheio de admiração e respeito por ela. Assim é que se faz! E se mais de nós procedêssemos com a mesma dignidade os patrões não andavam a brincar tanto! Fala-se que pode haver medo de denunciar as histórias de precariedade, mas devemo-nos lembrar que os patrões é que têm medo; medo de que tomemos consciência da força imbatível das nossas dignidades unidas!
Adorei o sentido de resistência, quase militante, da história. O último parágrafo então foi a cereja sobre o bolo: ter-lhes dito em cima da hora que havia outro emprego foi lindo!
E sim, vais conseguir uma solução laboral melhor. É só uma questão de tempo e paciência. Essa solução existe e está lá à tua espera! Força!

Anónimo disse...

Sapiens:

Também concordo que as empresas que oferecem boas condições de trabalho deviam ser divulgadas. Seria uma "lufada de ar fresco" num mundo em que só se fala de crise, crise e mais crise. Já parece uma conspiração para acreditarmos todos nisso, tipo carneirinhos em manada.

Dalailama:

Obrigada pelas tuas palavras. Se estivesses à minha frente, abraçava-te :-)

Anónimo disse...

Fez muito bem, e só perdeu tempo foi em lhes telefonar.

No fim das contas, a culpa é MESMO do Governo, porque cria o quadro legal para que isto seja, INFELIZMENTE, legal!!!

vota-se neles... eis o resultado. MUDEM!

a uniäo faz a força, a acomodaçäo faz a fraqueza.

na Finländia existem INÚMEROS sindicatos de "especialistas de profissöes de escritório"...

o pessoal näo se quer sindicalizar, näo os manda "àquele sítio" (e isto faz-se apenas e só levantando-se da mesa dizendo "bem, como pelos visto enganaram-se na pessoa, näo quero fazê-los perder o vosso tempo"), e "eles" abusam e abusam.
Depois quem entra acaba por se acomodar, e fazer o mesmo aos outros...

Anónimo disse...

Hoje aconteceu-me mais uma. Ligaram-me ontem a marcar uma entrevista para hoje. Ao telefone disseram: "Bem... já temos uma para entrevista marcada às 10h30. Quer marcar às 10h20?". E eu, muito confusa: "Conseguem entrevistar-me em 10 minutos?". Ficou marcada para as 11h.

Cheguei 20 minutos antes e estavam lá 5 pessoas. Às 11h entrou uma delas. Saiu passados 30 minutos, mais ou menos, e entrou outra. 11h40 e ninguém me dizia nada.

Fui ao pé da recepcionista e perguntei se havia algum atraso. Ela disse que sim: "Sabe como é, é normal haverem atrasos nestas coisas." Confirmou que as pessoas que sobravam tinham todas marcação antes de mim.

Fiz as continhas: tinha 3 pessoas à minha frente, mais a outra que tinha acabado de entrar. Se cada uma demorasse meia hora, podia ser que às 13h30 estivesse a ser entrevistada...

Duas horas à espera??? Ná... pirei-me. :D

É como eu digo, perdi há muito a pachorra para aturar isto. Será que marcar as entrevistas todas para a mesma hora e fazer as pessoas esperarem 2h30 faz parte de algum plano para as levar ao desespero? Enfim...

Anónimo disse...

É incrível o sentimento de impunidade por parte das empresas que fazem este tipo de coisas. Olhem só anúncio que encontrei hoje:

"assistente apoio ao cliente




Empresa de Comunicação em Lisboa, pretende recrutar Assistente Apoio ao Cliente.


Perfil do candidato:
- 12ºano
- Até 29 anos
- Sentido de Organização e Responsabilidade
- Capacidade de Expressão Oral e Escrita
- Proactividade
- Domínio do Office
- Disponibilidade imediata
- Full-time
- Recibos verdes.


. Enviar CV para: recursos.humanos@lkm.pt"

Não há nenhuma entidade onde se possa denunciar isto?? É escandaloso!!!

Inês e Buba disse...

Adorei o texto!

E a atitude!

Força!

Anónimo disse...

Excelente Text...Melhoras

Anónimo disse...

Atenção que eles voltaram a colocar um anúncio... Vi-o no JN de hoje, curiosamente na parte da formação. se virem uma empresa a pedir um "Relações Públicas p/ lojas internacional de comércio electrónico", já sabem para o que é...

Anónimo disse...

Concordei com práticamente tudo o que disse, deixando apenas duas ressalvas:
1- Tem uma mancha ética no seu curriculo - ter trabalhado como freelancer passando recibos verdes de outra pessoa - não me parece correcto.
2 - Muito boa gente não pode ter a atitude corajosa, que é elogiada por todos, de recusar uma oferta de trabalho, é a estes casos que devemos prestar mais atenção.
À parte destes pontos posso dizer que já vivi situações muito semelhantes a estas, na área do design (a minha) é frequente ir a entrevistas em que nos pedem para resolver um problema (a mim pediram-me para desenhar um logotipo) depois nem se dão ao trabalho de telefonar a dizer que não fui seleccionada, e paparam um trabalhito de graça, até se podem dar ao luxo de escolher qual o melhor trabalho dos vários candidatos...

Anónimo disse...

Depois de ler atentamente, apenas me ocorre uma ideia.
Elaborar uma base de dados com o nome destas empresas, servindo de alerta para os possíveis candidatos a "escravos".

Anónimo disse...

Concordo plenamente... Uma base de dados anónima, on-line, de empresas portuguesas que são conhecidas por aldrabarem com falsos recibos verdes, ou outros tipos de exploração.

É como tudo o resto. A partir do momento que têm cara, finalmente passam a ser um alvo. Pode ser que finalmente levem uma análise como deve ser da IGT (pelo menos agora que a ASAE tá no congelador por algum tempo, é preciso aproveitar o vazio).

Anónimo disse...

Muito boa ideia essa da lista negra de empresas estamos contigo :D

Anónimo disse...

Anónimo,

Em relação à "mancha ética" no currículo, atenção que eu só passei recibos por outra pessoa porque na realidade o meu trabalho era como trabalhadora dependente, apesar de estar a recibos. Se realmente fosse freelancer, teria de me colectar e não teria problemas com isso. Sei que em termos fiscais isto é errado, mas na altura tive de me desenrascar e não prejudiquei a pessoa que passou os recibos por mim (ele era isento de Segurança Social e não pagou mais impostos com o magro rendimento que auferi enquanto estava "à experiência").

Por tudo isto, não considero que a minha atitude tenha sido moralmente condenável: tinha de trabalhar e foi-me prometido um contrato... Aceitei e pedi a outra pessoa para passar os recibos. Ninguém colocou problemas.

Precisamente por já ter aceite situações destas é que eu não posso, nem vou condenar ninguém que faça o mesmo, muito menos quem não está em condições de recusar. Eu estou em condições de dizer "não", mas não sei ao que chego...

A única coisa que posso dizer é... Se puderem, evitem. De resto, não estou aqui para julgar ninguém. Mas algo tem de ser feito para fazer pressão a estas situações cada vez mais frequentes.

Quanto à situação que descreve da área do design, não me surpreende, infelizmente... Até com os tradutores fazem isso: pedem a cada candidato que escreva uma parte de um texto "à experiência", e no fim têm o texto todo (mal) traduzido.

rui disse...

Infelizmente grande parte dos "estagiários", isto é os recém-licenciados de várias especialidades da advocacia à arquitectura, aceitam estas humilhações na vaga esperança de dentro em breve estarem eles no lugar dos negreiros.
E isto é em tempos de Constituição "longa" e falta de "flexibilidade" das Leis do trabalho.
Imagine-se o que virá a seguir.
Não percebo também qual é o escrúpulo em nomear esses bois parasitas. As empresas e os respectivos responsáveis.

mendes disse...

Muito bem

No mercado de trabalho também funciona a lei da oferta e da procura.

Por isso, se quem sabe que tem formação adequada não estiver disposto a trabalhar a qualquer preço, mas apenas ao preço justo, os malfeitores (alguns empresários), através dos básicos das empresas de recrutamento, têm de dar melhores condições forçosamente.

faltou, parece-me, denunciar a empresa, e os básicos do recrutamento, que tiveram o comportamento aqui relatado pela nossa colega.

MUITO BOA IDEIA que aqui foi dada, a de fazer uma lista negra para as empresas onde alguém teve uma má experiência na contratação ou no exercício do seu trabalho; e ao mesmo tempo uma lista das empresas que primam pela seriedade e oferecem boas condições de trabalho, vivenciadas por alguns de nós.

força nisso,
Isto sim é ser proactivo na defesa dos nossos interesses.

Tiago Marques disse...

Fiquei extremamente sensibilizado com esta história e compadeci-me da sua protagonista.
Este país é muito triste, de facto. E só o sabe que está na frente de batalha, na luta. Os outros, esses, abanam a cabeça quando nos ouvem queixar, achando que somos princesas com aversão ao trabalho e que se queixam com grande facilidade.
Já desisti há muito de tentar obter um vínculo ou algo melhor do que tenho. A procissão de entrevistas, testes e procura de anúncios, aliada às expectativas sempre renovadas e posteriormente goradas, fez com que sentisse que era muito melhor - e menos doloroso - permanecer pacatamente como freelancer, a ganhar uma miséria, e a ser pago quatro meses depois de realizar o trabalho. Assim, já me encontro habituado a esta rotina e já sei o que me espera. Cansei de ver a minha dignidade diminuída pelos outros (e por mim mesmo, ao dizer aceitar submeter-me ao que quer que fosse). Cansei das romarias inúteis.
O título desta história remete para problemas de saúde ligados a esta nossa condição precária. De facto, também eu já os padeci. Tive um esgotamento, seguido de uma depressão profunda com tendências suicidas. Na verdade, toda esta problemática não é tão linear quanto se possa pensar, visto ter repercurssões a vários níveis da vida de uma pessoa.
Os meus parabéns à "anónima" por se ter "rebelado" no final, dando aos inescrupulosos um estalo com luva de pelica (que não lhes deve ter doído muito, contudo; cedo devem ter encontrado uma substituta).
Deixo aqui os meus votos de melhoras. Tanto mental e fisicamente, quanto profissionalmente.

Tiago Marques disse...

Esqueci-me de dar o meu total apoio à ideia da elaboração da Lista Negra dos malfeitores e da Lista Branca dos benfeitores, para que todos saibamos com quem estamos a lidar (e para que, assim, lhes suba a vergonha na cara e a mudança possa vir a suceder futuramente).

Anónimo disse...

Muito bom Texto! nem fazia ideia da maquinação no local de trabalho. Hoje examino a minha experiência e muitos empregadores funcionam assim, mesmo que a um nível mais pequeno.

Parece-me muito bem a criação de uma lista dos Benfeitores e Malfeitores! ninguém sabe como o fazer com um google map? em que todos podem colocar um sinal "Empresa Malfeitora/"Empresa Benfeitora"? O FERVE bem que podia elaborar um!

Anónimo disse...

Olá!
Eu também já passei por uma situação semelhante e provavelmente seria a mesma empresa...esta fica situada em benfica...talvex ...sim ou nao...mas uma coisa é certa a exploracao dos licenciados que ja nao sao tao novos quanto isso e que pretendem formar uma familia ter uma casa e pensar em ter filhos é mesmo apenas uma miragem um sonho que quase nem temos estrutura mental nem psicologica nem mesmo fisica para construir tal coisa...depois passam os anos e verificamos que continua tudo na mesma e o Estado e as proprias universidades sao as culpadas pois sinceramente eu acho que nao necessitam de tantos licenciados e os que existem sao tao mal pagos que as faculdades deveriam fechar enquanto houvesse licenciados desempregados e em situacoes imensamente precarias...pois aquilo que se verifica é que existem milhares de empresas a empregarem licenciados para estagios nao remunerados sistematicamente enquanto candidatos licenciados com alguma experiencia vao a entrevistas como ja me sucedeu e sao preteridos pelos anteriores e o que sucede a seguir? nada...vamos a entrevistas atras de entrevistas simplesmente justificar que precisamos de trabalhar e isso so nao chega...tinhamos que provar que temos mais do que competencias ...mas a juventude é que conta e nao a maturidade e a experiencia mas sim a inocente ignorancia ...o que é terrivel...esta-se a transformar uma sociedade que nao valoriza os seus recursos...Eu estive 7 meses desempregada apos ter sido professora...profissao que amei e que adorava continuar a exercer...mas neste pais é impossivel...actualmente sou formadora num cno nos arredores de lisboa mas estou a recibos verdes e eventualmente estarei desempregada novamente me dezembro deste ano ...mas agora sem quaisquer direitos laborais...sinto que estou para nada ..de nada valeu o meu esforco e a minha pos-graduacao...adorava continuar a estudar ...tirar um doutoramento quem sabe ...mas depois penso: nao tenho casa propria, nao tenho filhos, nao sou casada....sinto a minha vida cortada a meio antes de ter avancado ou simplesmente sendo enriquecida por algo mais que justifique todo o esforco para tirar um curso...as vezes sinto que nao valeu de nada...mas quem sabe se estarei enganada e as coisas neste pais mudam e a minha vida finalmente anda para a frente e poderei finalmente sonhar nos meus projectos familiares e pessoais...que eu amava que fossem concretizados nesta vida...porque nos os jovens apesar de pertencerem á geracao dos 30 ainda temos sonhos que precisam de ser rapidamente alcançados antes que haja uma depressao colectiva ou uma catastrofe universitaria de encaminhamento colectivo para o julio de matos visto sentirmos as nossas vidas em stand-by... desejo felicidades a todos e a todas e que consigam apesar de todas as dificuldades concretizarem os vossos sonhos! Ass: MARIA.

Anónimo disse...

Vocês não vão acreditar, mas eles (empresa T.) ligaram-me outra vez a dizer que queriam mesmo trabalhar comigo e ofereceram-me um contrato.

Com isto tudo aprendi que estava certa quando me valorizei e me recusei a aceitar condições exploratórias de trabalho, mesmo quando algumas pessoas me censuraram por não ter aceite trabalhar a recibos verdes estando desempregada.

Só posso aconselhar toda a gente a valorizar-se também e a ter sempre pensamento positivo. Não se deixem levar pela conversa da "crise". Sejam firmes e tenham confiança nas vossas capacidades.

Felicidades para todos.

Anónimo disse...

E agora só por curiosidade, vais aceitar, ou mantê-los à fava? :)

Anónimo disse...

Vou aceitar porque o subsídio social de desemprego que me foi atribuído vai acabar em breve... Já não tenho, de momento, muita solução senão aceitar. Enrolei-os uns dias mas eles dizem que precisam que comece a trabalhar em breve, por isso não posso adiar a minha resposta muito mais tempo.

Se a coisa começar a correr mal sempre posso procurar outro emprego... O que não me apetece nada, por isso espero que corra bem!

FERVE disse...

No que concerne à ideia de constituir uma base de dados de entidades qu econtratas com 'falsos' recios verdes, há um problema que se coloca: a legalidade de publicar os nomes dessas empresas.

Haveria a possibilidade de sermos processados por essas mesmas empresas...

Pelo FERVE;

Cristina Andrade

Ricardo Caetano disse...

Concordo com a Lista Negra. Existem maneiras de passarmos a informação entre nós sem sermos apanhados!

Podemos codificar o nome das empresas, ou simplesmente em vez de usar um blog, usamos um endereço de e-mail q toda a gente tem a pass!!!

Assim passamos a informação, eles não podem entar e é "pessoal" e privado!!!

Vamos unir-nos!
Temos de dar a volta a isto porque não são eles que se vão preocupar...!

Estou disponivel para o que quiserem!

RC

Tia Maria disse...

Antes de ir para a Holanda, fui a uma entrevista a uma empresa de recrutamento em Lisboa.

A cada pergunta minha, o personagem só me dizia que não me podia dar essa informação.

Não me queria dizer qual era a empresa, qual a função, qual o local de trabalho, qual o ordenado proposto, etc e por aí fora.

Ás tantas, pergunta-me qual é que eu achava que ia ser a mais-valia que eu ia trazer para a empresa.

Eu disse-lhe, com ar de perfeito filho da puta, "não lhe posso dar essa informação".

Levantei-me e sai porta fora.

Cumprimentos da terra das tulipas