Tenho 30 anos, sou engenheira e estive a trabalhar durante quatro anos e meio num órgão da administração local.
Eu e tantos outros (chegámos a ser mais de 50 nesta situação) cumpríamos com as obrigações dos funcionários do quadro (horários e subordinação hierárquica) embora, obviamente, não comungássemos das mesmas regalias. O trabalho "duro" era todo feito por nós, já que o funcionário tinha a sua "quase" automática progressão na carreira… Tínhamos também sempre sobre nós a ameaça da possibilidade de não nos renovarem o contrato.
Saímos todos bem baratos ao Estado: para os nossos salários, pagos com fundos comunitários, o governo só tinha de avançar com uma comparticipação de 25%, recebendo em seguida o valor do IRS, o IVA e ainda a prestação da segurança social. Ainda tínhamos de ouvir piadas dos funcionários sobre o nosso salário bruto, "demasiado elevado" (esquecendo-se que no final, impostos e segurança social pagos ficava cerca de metade).
Isto para nem falar do facto de não termos direito a um subsistema de saúde, estarmos a descontar para efeitos de reforma o equivalente a salário mínimo (há cerca de 1 ano esse valor passou a ser obrigatoriamente de salário mínimo e meio), termos de pagar do nosso bolso um seguro de trabalho e cada vez que se solicitam subsídios, como é o caso do abono de família, considerarem o nosso vencimento bruto (o que nos coloca sempre num escalão muito superior à realidade).
Os salários que normalmente tinham uma periodicidade trimestral chegaram a estar atrasados cerca de 9 meses, sobre este e outros aspectos ouvíamos os dirigentes com ar de enfado dizer que a nossa situação estava em análise e que seria brevemente resolvida. Era também sabido que muitas vezes o nosso dinheiro servia para saldar dívidas mais urgentes, como o pagamento de fornecedores e de obras.
Durante estes quatro anos e meio o serviço em que estava desempenhou um trabalho exemplar, elogiado tanto pelo público, como por outros órgãos da administração local e dirigentes nacionais, o que não evitou que fosse avisada 15 dias antes que não me iriam renovar o contrato (estava grávida e o meu marido acabava também de ser dispensado). Tive direito a um comentário do meu chefe a dizer-me "… é realmente muito chato".
É escusado sublinhar que, apesar de se descontar todos os meses mais do que toda a gente para a segurança social, não se tem direito a subsídio de desemprego.
Acho piada os nossos dirigentes virem apregoar grandes incentivos ao aumento da natalidade, com medidas propagandísticas de atribuições de subsídios irrisórios quando a situação dos recibos verdes diz tudo…
Já na casa dos trinta, muitas vezes com a vida adiada, alguns ainda em casa dos pais (porque não há recursos para ser de outra forma), sem perspectivas de carreira, ou de construir um futuro, assim é o retrato da nossa geração.
Eu e tantos outros (chegámos a ser mais de 50 nesta situação) cumpríamos com as obrigações dos funcionários do quadro (horários e subordinação hierárquica) embora, obviamente, não comungássemos das mesmas regalias. O trabalho "duro" era todo feito por nós, já que o funcionário tinha a sua "quase" automática progressão na carreira… Tínhamos também sempre sobre nós a ameaça da possibilidade de não nos renovarem o contrato.
Saímos todos bem baratos ao Estado: para os nossos salários, pagos com fundos comunitários, o governo só tinha de avançar com uma comparticipação de 25%, recebendo em seguida o valor do IRS, o IVA e ainda a prestação da segurança social. Ainda tínhamos de ouvir piadas dos funcionários sobre o nosso salário bruto, "demasiado elevado" (esquecendo-se que no final, impostos e segurança social pagos ficava cerca de metade).
Isto para nem falar do facto de não termos direito a um subsistema de saúde, estarmos a descontar para efeitos de reforma o equivalente a salário mínimo (há cerca de 1 ano esse valor passou a ser obrigatoriamente de salário mínimo e meio), termos de pagar do nosso bolso um seguro de trabalho e cada vez que se solicitam subsídios, como é o caso do abono de família, considerarem o nosso vencimento bruto (o que nos coloca sempre num escalão muito superior à realidade).
Os salários que normalmente tinham uma periodicidade trimestral chegaram a estar atrasados cerca de 9 meses, sobre este e outros aspectos ouvíamos os dirigentes com ar de enfado dizer que a nossa situação estava em análise e que seria brevemente resolvida. Era também sabido que muitas vezes o nosso dinheiro servia para saldar dívidas mais urgentes, como o pagamento de fornecedores e de obras.
Durante estes quatro anos e meio o serviço em que estava desempenhou um trabalho exemplar, elogiado tanto pelo público, como por outros órgãos da administração local e dirigentes nacionais, o que não evitou que fosse avisada 15 dias antes que não me iriam renovar o contrato (estava grávida e o meu marido acabava também de ser dispensado). Tive direito a um comentário do meu chefe a dizer-me "… é realmente muito chato".
É escusado sublinhar que, apesar de se descontar todos os meses mais do que toda a gente para a segurança social, não se tem direito a subsídio de desemprego.
Acho piada os nossos dirigentes virem apregoar grandes incentivos ao aumento da natalidade, com medidas propagandísticas de atribuições de subsídios irrisórios quando a situação dos recibos verdes diz tudo…
Já na casa dos trinta, muitas vezes com a vida adiada, alguns ainda em casa dos pais (porque não há recursos para ser de outra forma), sem perspectivas de carreira, ou de construir um futuro, assim é o retrato da nossa geração.
Anónima
5 comentários:
Olá, estive a ler atentamente a sua história e a minha não é muito melhor, mas apenas comento o seu caso porque fui informada que o subsidio de desemprego é automaticamente atribuído a quem provar que esteve a cumprir tarefas numa mesma empresa mais de um ano. Foi o que me foi dito, se me diz que estava há 4 anos numa empresa e não teve direito a este mesmo subsídio, então os serviços andam a passar mal as informações.
Será?
Um abraço e boa sorte para 2008.
Cada vez que leio mais um caso, mais revoltada fico. Que vergonha! Temos de mudar isto!!!
Anónima de engenharia, tem todo o meu apoio. E toda a razão quando refere a questão da taxa de natalidade. Sendo ainda as mulheres em termos profissionais estatisticamente mais precárias, e com tantas dificuldades em ter uma situação económica estável, não é difícil perceber porque adiamos ter filhos. Sem ter trabalho e remuneração garantidos a médio prazo, quem não se aventura a ter filhos sou eu.
Autores do Blog, há novidades em relação à petição?
És mais uma vítima da vergonha a que o nosso país chegou! Estou na situação de avençado há 10!!! anos como técnico superior de um ministério. Isto é o quê? Diz tudo de um país! Estou seriamente a pensar abandonar o ministério e aventurar-me em qualquer coisa por conta própria. Mas antes disso não se ficam a rir! Já entrou uma acção contra o Estado em Tribunal! Sim, é possível fazer isso! Não hesitem! Bjs e bom 2008!
Olá cara colega
Também eu sou engenheira e ao ler o teu caso por momentos pensei que "trabalhámos" no mesmo sítio, tal são as semelhanças da situação em que me encontro há 4 anos. Desde que comecei a trabalhar, há cerca de 8 anos, que me encontro a recibo verde. E não tenho esperança nenhuma que a minha situação melhore na "empresa" onde me encontro, e onde desempenho as minhas funções da mesma forma que todos os meus colegas que estão no quadro. Fazer queixa...penso muitas vezes nisso, mas depois de a fazer sei que vão fazer de tudo para que me despeça. Só me resta esperar que de um momento para o outro me digam: "a partir da amanhã está dispensada...", e lá venho eu p/ o desemprego sem direito a subsídio e numa idade crítica p/ arranjar emprego!
É o país que temos!!!
Boa sorte colega
Já agora, qual é esse salário bruto "demasiado elevado"???
É que eu actualmente ganho 60€/h e acho que não é mau de todo. Ainda quero mais.
Já agora, eu sou eng. inf. e qq empresa de serviços aqui por estas bandas, canalizador, electricista, etc, não cobra menos de 50€/h.
Mas ao contrário do que a maioria dos meus amigos pensa, eu não vim para a Holanda pelo dinheiro, porque, mal ou bem, eu e a maria lá nos íamos desenrascando.
Mas as histórias que temos lido neste site, aconteciam-nos quase diariamente e tornou-se impossível continuara viver assim.
Eu tenho 40 anos, mas desde que emigrei, sinto que me tiraram 30 anos de cima.
Cumprimentos da terra das tulipas.
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