Licenciei-me num daqueles cursos de engenharia que ainda se dizem "ter muita saída" e é com muito orgulho que desempenho as minhas funções. Contudo, não é com a mesma satisfação que vejo chegar o final do mês.
Chegado o dia do vencimento, o dia de passar o tão famoso recibo, chegam também as contas para pagar: a segurança social, a retenção na fonte, o seguro de saúde, o seguro de trabalho (obrigatório por lei), o pagamento ao contabilista dado que as contas de IVA me ultrapassam completamente.
Sim, porque desenganem-se aqueles que pensam que os encargos com os recibos verdes são somente com a segurança social…. Como se não basta-se, de três em três meses também chega a conta do IVA para pagar. (Ora deixa cá ver, que ainda sei fazer umas contas. Se subtrair a 750 euros brutos mensais o valor da segurança social, retenção na fonte, seguro de saúde, seguro de trabalho, uff, ainda não acabou, e o pagamento ao contabilista, fico com 370 euros mensais. É isto o que paga o estado a um licenciado em engenharia. Mais parece uma ajuda de custo, não?)
Até podiam ter usufruído dos protocolos com os centros de empregos porque se tratava do primeiro emprego, mas não. Não, porque não lhes apetecia.
Mas desenganem-se também aqueles que pensam que as contas para pagar são a pior parte. Na realidade, o maior constrangimento é o violentamento psicológico a que o "recibo verde" é submetido. Esta é a verdadeira prova de fogo.
É o pânico de se ser despedido no final de "contratos" semestrais ou até antes, mesmo que se desempenhem funções de forma exemplar.
É o descrédito por parte dos "colegas do quadro", são as atitudes desumanas que os "colegas do quadro" têm. Chegam mesmo a ridicularizar os recibos verdes mesmo que partilhem a mesma profissão… Enfim, eles chegaram ao Estado em "tempo de vacas gordas", nós não. Eles continuam a ser promovidos, e nós nem os dois ordenados mínimos estabelecidos por lei (pelo mesmo Estado que nos emprega) ganhamos.
É o ouvir as típicas palavras: "Quem quer, quer. Quem não quer, tem a portas abertas para ir embora".
É ficarmos doentes, realmente doentes e, ligarem-nos para casa a argumentar que se não nos apresentarmos ao serviço no dia seguinte, nos descontam no ordenado os dias de ausência.
E quando nos chamam à atenção, argumentam que não temos bocas para alimentar, nem casas para pagar. Não temos nem teremos, porque a nossa condição profissional não nos permite essas ambições.
Que se envergonhem os senhores capazes de tais atrocidades. Que se envergonhem por trilharem quem anda ao lado deles. Que se envergonhem por terem perdido o respeito pela saúde ou pela condição social dos seus colegas de trabalho. Que se envergonhem por terem perdido o respeito por tudo. Quem sabe se não perderam o respeito por eles mesmos?
É a solicitação de usarmos os nossos próprios veículos, para deslocações por conta da empresa, sem que seja equacionada a hipótese de reembolso dos quilómetros percorridos.
É a obrigatoriedade do cumprimento de horários, de subordinação e de exclusividade, que não se aplica a um trabalhador independente. E quando estão fartos de nós, porque até lhes fizemos ver algumas coisas, por e simplesmente deixam de nos dar trabalho, à espera que os superiores hierárquicos nos mandem embora.
Mas há mais! E para se tirarem férias? Não se tiram ou então, "faça o favor de interromper o seu contrato para poder tirar uns dias." (Ora bem, não ganhamos o subsidio de natal, não ganhamos o subsidio de férias, nem os dias de férias que tiramos. Mais uma vez… contas feitas, são menos três ordenados por ano… Que baratinhos que ficamos…)
O mais dramático de tudo isto, é que o final se adivinha claramente e não é preciso recorrer a bolas de cristal. Enquanto interessar à empresa o contributo do recibo verde, ele lá está. Mas desenganem-se com as hipóteses de se entrar para os quadros ou do "valeu a pena o sacrifício", porque quando o recibo verde deixar de interessar é despedido. E não tem direito a subsídio de desemprego nem a nada. Nem tão pouco a uma justificação.
É esta a minha realidade e, a minha realidade, já tem dois anos. Mas por considerar que para a justiça funcionar o cidadão comum tem de dar o seu contributo, deixo aqui o meu testemunho na esperança de que a este outros se juntem. Não acredito que o silêncio seja a melhor via. E continuo a acreditar na mudança.
Chegado o dia do vencimento, o dia de passar o tão famoso recibo, chegam também as contas para pagar: a segurança social, a retenção na fonte, o seguro de saúde, o seguro de trabalho (obrigatório por lei), o pagamento ao contabilista dado que as contas de IVA me ultrapassam completamente.
Sim, porque desenganem-se aqueles que pensam que os encargos com os recibos verdes são somente com a segurança social…. Como se não basta-se, de três em três meses também chega a conta do IVA para pagar. (Ora deixa cá ver, que ainda sei fazer umas contas. Se subtrair a 750 euros brutos mensais o valor da segurança social, retenção na fonte, seguro de saúde, seguro de trabalho, uff, ainda não acabou, e o pagamento ao contabilista, fico com 370 euros mensais. É isto o que paga o estado a um licenciado em engenharia. Mais parece uma ajuda de custo, não?)
Até podiam ter usufruído dos protocolos com os centros de empregos porque se tratava do primeiro emprego, mas não. Não, porque não lhes apetecia.
Mas desenganem-se também aqueles que pensam que as contas para pagar são a pior parte. Na realidade, o maior constrangimento é o violentamento psicológico a que o "recibo verde" é submetido. Esta é a verdadeira prova de fogo.
É o pânico de se ser despedido no final de "contratos" semestrais ou até antes, mesmo que se desempenhem funções de forma exemplar.
É o descrédito por parte dos "colegas do quadro", são as atitudes desumanas que os "colegas do quadro" têm. Chegam mesmo a ridicularizar os recibos verdes mesmo que partilhem a mesma profissão… Enfim, eles chegaram ao Estado em "tempo de vacas gordas", nós não. Eles continuam a ser promovidos, e nós nem os dois ordenados mínimos estabelecidos por lei (pelo mesmo Estado que nos emprega) ganhamos.
É o ouvir as típicas palavras: "Quem quer, quer. Quem não quer, tem a portas abertas para ir embora".
É ficarmos doentes, realmente doentes e, ligarem-nos para casa a argumentar que se não nos apresentarmos ao serviço no dia seguinte, nos descontam no ordenado os dias de ausência.
E quando nos chamam à atenção, argumentam que não temos bocas para alimentar, nem casas para pagar. Não temos nem teremos, porque a nossa condição profissional não nos permite essas ambições.
Que se envergonhem os senhores capazes de tais atrocidades. Que se envergonhem por trilharem quem anda ao lado deles. Que se envergonhem por terem perdido o respeito pela saúde ou pela condição social dos seus colegas de trabalho. Que se envergonhem por terem perdido o respeito por tudo. Quem sabe se não perderam o respeito por eles mesmos?
É a solicitação de usarmos os nossos próprios veículos, para deslocações por conta da empresa, sem que seja equacionada a hipótese de reembolso dos quilómetros percorridos.
É a obrigatoriedade do cumprimento de horários, de subordinação e de exclusividade, que não se aplica a um trabalhador independente. E quando estão fartos de nós, porque até lhes fizemos ver algumas coisas, por e simplesmente deixam de nos dar trabalho, à espera que os superiores hierárquicos nos mandem embora.
Mas há mais! E para se tirarem férias? Não se tiram ou então, "faça o favor de interromper o seu contrato para poder tirar uns dias." (Ora bem, não ganhamos o subsidio de natal, não ganhamos o subsidio de férias, nem os dias de férias que tiramos. Mais uma vez… contas feitas, são menos três ordenados por ano… Que baratinhos que ficamos…)
O mais dramático de tudo isto, é que o final se adivinha claramente e não é preciso recorrer a bolas de cristal. Enquanto interessar à empresa o contributo do recibo verde, ele lá está. Mas desenganem-se com as hipóteses de se entrar para os quadros ou do "valeu a pena o sacrifício", porque quando o recibo verde deixar de interessar é despedido. E não tem direito a subsídio de desemprego nem a nada. Nem tão pouco a uma justificação.
É esta a minha realidade e, a minha realidade, já tem dois anos. Mas por considerar que para a justiça funcionar o cidadão comum tem de dar o seu contributo, deixo aqui o meu testemunho na esperança de que a este outros se juntem. Não acredito que o silêncio seja a melhor via. E continuo a acreditar na mudança.
8 comentários:
Neste momento, o que vejo como tendo "saída" neste mundo, é tudo o que ajude os "grandes" a venderem mais e mais! Seja num call center ou a pensar na melhor publicidade possível, o que se quer é gente a ajudar a vender!:/
Formigas num carreiro?! Mudem de rumo, mudem de rumo!
Salomé :)
Caro Colega de Recibos Verdes,
Porque afinal todos somos colegas neste infortúnio.
Isto só se passa porque fazemos parte de uma cultura que não tem consciência do trabalhador, pouco produtivos???dizem alguns, para camuflar os baixos salários.
Pois eu sempre trabalhei muito e continuo 60 horas semanis por 400€ c/ o bemdito do recibo e o mis grave o estado e as empresas públicas dão os piores dos exemplos.
Coragem amigo, vamos esperar que os nossos tetemunhos sirvam para alguma coisa.
Com os melhores cumprimentos,
Anabela da Piedade
Caro colega:
Estive na mesmo situação durante 3 anos, agora sou bolseira, o que não é muito diferente em muitos aspectos, mas tem algumas vantagens. Licenciei-me em Psicologia e a minha tese foi sobre o desemprego.
Agora volto ao ataque no mestrado, mas contrapondo desemprego e recibos verdes. Preciso de voluntarios para as minhas entrevistas, e queria arranjar uma pessoa de cada licenciatura e até agora, nas areas de engenharia nao tem sido facil encontrar alguém no desemprego e quem esta a recibos verdes...parece ser voluntario.
Sou do norte de portugal, mas estou disposta a deslocar-me um pouco. Se quiser participar, ou se souber de alguem que queira agradecia que me escrevesse: pattaraujo@hotmail.com.
Claro que o anonimato esta garantido.
Já agora, deixo em aberto a proposta para outros colegas que estejam em situação semelhante (quanto mais perto do Porto ou Viana melhor...)
Boa sorte a todos/as e ate breve,
Patrícia Araújo
"É o descrédito por parte dos "colegas do quadro", são as atitudes desumanas que os "colegas do quadro" têm. Chegam mesmo a ridicularizar os recibos verdes mesmo que partilhem a mesma profissão… Enfim, eles chegaram ao Estado em "tempo de vacas gordas", nós não. Eles continuam a ser promovidos, e nós nem os dois ordenados mínimos estabelecidos por lei (pelo mesmo Estado que nos emprega) ganhamos."
Veja-se bem: alguns funcionarios do ministério da agricultura foram postos na bolsa de disponíveis; tendo assim um subsídio de desemprego vitalício e acumulável com trabalho no sector privado... horas de notícias sobre o assunto na comunicacao social...Um ex ministo socialista, com aval ao que parece de um bloquista, afirma, com orgulho, que irá por na rua grande parte dos avencados e tarefeiros na CML, nenhum deles com acesso a qualquer apoio no desemprego...mal se ouve...tudo parece normal, no fundo quem está a recibos verdes nao é gente... o que é que os sindicatos da funcao pública sao...para que servem se nao fazem pressao a sério por quem precisa?
Muitos mais exemplos destes existem.
(nao tenho neste momento acesso a um teclado portugues)
Bom dia. De facto estas situações são tristes. Uma dica, sabes que ao fim de 2 anos ganhas direitos? Propõe a tua passagem ao quadro e se eles não aceitarem, vai em força e põe-os em tribunal. Ao fim de 2 anos a recibos verdes, qualquer trabalhador que tenha posto de trabalho fixo, horário, etc., ganha um lugar no quadro e não só. A entidade patronal terá de pagar IVA, IRS e SS, tudo em rectroactivos. Foi o peixe que me venderam. Informa-te!
Deves concordar comigo quando digo que há uma coisa concreta par aa qual a universidade não nos prepara - gestão financeira pessoal (de trabalhador)!
Tive uma cadeira de gestão de empresas q basicamnete foi um semestre perdido. Não aprendi nada de verdadeiramente util. Teria sido mais util aprender sobre a gestão de salário e as questões fiscais a que seriamos sujeitos a partir do momento em que trabalhassemos e os vários regimes.
Eu , e suponho muitos outros, temos vindos a aprender a forma mais dificil - a levar pancadas fortes e feias.
Infelizmente a minha situação pessoal n é muito famosa (tou a recuperar das pancadas), mas ultimamnete tenho vindo a aprender a fazer as coisas como deve ser. Outras ainda n estão completamente corrigidas, mas hão de ficar.
Não sei de que area de engenharia trabalhas, mas sinceramente, como trabalhador tão qualificado que és (afinal és uma pessoa com uma formação especializada que certamente rende bom dinheiro a quem te contratou), como te podes deixar seguir nesse regime?
Mais, surgem as perguntas: 750€ com IVA incluído? - isso representa um valor tributável de 620€ (valor ao qual é acrescido IVA) - o que ao fim do ano n atinge os 10000€ que por lei obriga-te a estar em regime de IVA. Não deverias estar a cobrar IVA.
Mais, acho q que como recibo verde, deves de alguma forma "lutar" para impor aquilo a que tens direito. NÂO ÈS EMPREGADO. NÂO SÂO TEUS PATRÔES. São clientes. E como tal, a relação deve ser como a que deverias ter para client, posi afinal, o que estas a efectuar, tendo em conta o teu regime juridico e que o contratante escolheu/concordou é q serias um consultor externo - não um empregado.
A menso que o contrato não exija horário de trabalho, nem as funções a desempenhar, não deverias ter que o cumprir. Não é justificável que seja um valor descontável. Nem que a porta esteja aberta. Da mesma forma que tu tens de cumprir com as tuas obrigações para com eles, eles tem de cumprir as obrigações que teem para contigo. Veja muito bem o teu contrato. é capaz de ser compensatório consultar um advogado ou um amigo na área, para explicar a situação e ver a que tens direito e por onde podes estar livre. E Ve esta situação (que eu também desconhecia) que o esverdeado mencionou (e que eu tb desconhecia). São opções.
POr fim, sinceramnete, não conheço a tua situação financeira nem de vida (portanto aquilo que vou dizer a seguir pode n fazer muito sentido), mas muito sinseramnete - não tenhas medo do despedimento. Pode ser a oportunidade (veja só a ironia da situação) para arranjar algo melhor e mais justo. aquilo que tas a lucrar num mês podes estar a lucrar numa semana ou dias ou dia...
FOrça aí!
nao desistas rapaz.eu tambem sou licenciado em fisioterapia e claro, haja o maldito do recibo.ja nem posso ve-las.até fico enraivecido quando vou passar um!!
Entendo a tua realidade! A minha tem 10!!! anos de trabalho como Técnico superior para um dos ministérios do nosso governo?! (país?!). Há escândalo maior? Eu não conheço! Estou a tratar da situação via judicial, mas todas as iniciativas são válidas para obtermos um Mundo melhor!!!
Bom ano 2008!
Enviar um comentário