Comecei a trabalhar apenas três meses após terminar o curso. Achei-me uma sortuda! Disseram-me que teria que ser a recibos verdes e eu, que nunca tinha ouvido falar disso, aceitei imediatamente.
No primeiro ano, ainda não tinha despesas e estava isenta do pagamento da Segurança Social, por isso tudo corria bem. O ordenado não era assim tão mau e, segundo me diziam, toda a gente na área da Arqueologia trabalhava a recibos, portanto limitei-me a ficar feliz.
O meu segundo trabalho para uma empresa de arqueologia, já me colocou frente a frente com a realidade. Agora já descontava para a Segurança Social e todos os meses 21% do meu ordenado tinha que ser entregue ao Estado. Estava a 200km de casa. O alojamento, as refeições, as deslocações no âmbito do trabalho e o combustível eram por minha conta.
Tinha e tenho casa em Lisboa, para pagar, pelo que me sobravam alguns euros que davam para aguentar até ao próximo ordenado. Era insustentável. Tive que sair e vir para uma outra empresa, nas mesmas condições, mas mais perto de casa.
E todos os dias penso quando esta obra acabar (a maioria dos arqueólogos deste país trabalham em obras de construção civil, a fazer acompanhamento arqueológico), como é que vai ser? Tenho despesas fixas e nenhum vínculo legal com esta empresa. O único vínculo é respeitante a esta obra específica.
Se faltar por qualquer motivo, descontam-me o dia. Se a obra fechar alguns dias por qualquer motivo também não me pagam esses dias.
Estas situações são insustentáveis, injustas e deixam-me imensamente triste, desmotivada e revoltada.
Espero ansiosamente um contrato, daqueles contratos reais, não estas brincadeiras com que nos obrigam a sobreviver.
Provavelmente, muito provavelmente, a única solução será enveredar por outros caminhos que não a Arqueologia. Como muitos colegas meus já fizeram.
Anónima- Lisboa
1 comentário:
Um importante contributo de uma colega que aproveito para cumprimentar. De facto muitas vezes, as pessoas que começam a trabalhar a "recibos verdes", desconhecem os compromissos que terão de ter a partir do momento em que abrem actividade. Por isso o conselho que deixo é:
Informem-se primeiro nas Finanças e na Segurança Social e façam as vossas contas. Pode não compensar de todo ir para longe de casa e ser preferível trabalhar num trabalho menos remunerado, mas que ainda assim compense. Eu sei que muitas vezes teremos provavelmente de ir trabalhar em áreas que não estudámos. Por isso uma vez apelo, sobretudo aos que vão iniciar esta actividade três que reflictam nestes três pontos:
1. Esclarecimento nas várias Entidades;
2. Peçam ao contratante que vos informe de todas as condições antes de iniciar um qualquer trabalho;
3. Façam os devidos cálculos com o que descontam para as várias entidades e o que gastam em determinado projecto.
E depois decidam em consciência. Tenho vários colegas que devem três e quatro anos de segurança social e por esse motivo não podem entrar agora numa obra, visto que os recibos de Seg. social começam a ser exigidos.Além disso vão ter penhoras e não têm descontos feitos. Tudo isto tem de ser pensado inicialmente. Podem-se colocar numa posição muito difícil.
Uma vez mais um alerta: façam contas. Esta actividade ou se faz bem ou mal, não há o meio termo. E para se fazer bem há que ter meios de diversa natureza.
Cumprimentos,
L.
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