18 julho 2007

Testemunho: Instituto dos Museus e da Conservação







Trabalho num Museu Nacional, tutelado pelo Instituto dos Museus e da Conservação, criação recente, resultado da fusão entre Instituto Português dos Museus e Instituto Português de Conservação e Restauro.

Nesse museu, trabalho a projecto: todos os anos faço a minha proposta de trabalho e orçamento, peço a dois amigos que me façam o favor de orçamentar por alto e entrego tudo à tutela, que escolhe a "empresa" mais barata. Eu.

Isto repete-se há vários anos com dezenas de pessoas espalhadas pelos vários museus nacionais; somos pagos/as em quatro suaves prestações, que deveriam surgir de três em três meses mas que, muitas vezes, se arrastam durante muito mais do que isso, gerando conflitos vários a quem tem obrigações para gerir, uma vez que recibos verdes não é igual a juventude e desprendimento. Pelo contrário, é sinónimo de filhos, rendas, prestações.

Ora, não tendo eu a capacidade telepática (ou mesmo de força bruta) para obrigar os chefes que assinam cheques e aprovam pagamentos, sou das tais que já ficou cinco meses sem receber.

Para além de tudo isto, os 151€ da Segurança Social acabam por nos levar à loucura, já que o atraso chega a ser tal que quando nos dirigimos a um Multibanco para saldar dívidas à S.S. ficamos novamente sem tostão.

Faço horário, tenho tempo de férias (não remuneradas, claro!), trabalho com os meios da instituição e considero os efectivos meus colegas.

Esfolo-me para mostrar que sou necessária ao serviço, mas vou ser facilmente substituída por um qualquer senhor do Ministério da Agricultura que tem uma licenciatura em qualquer coisa e há alguns anos que tem como maior dever chegar lá e por lá estar.

Sou totalmente a favor da alocação racional de recursos humanos já existentes na função pública e já o deviam ter feito há mais tempo, que há muito boa gente efectiva e parada; mas isto de continuarem a renovar os recibos verdes é acenar a cenoura à frente dos burros que passam os dias a carregar marmitas com almoços caseiros, a pagar gasolina com dinheiro emprestado e a dever prestações de qualquer coisa a meio mundo.

Esta situação leva-me muitas vezes a considerar abandonar um trabalho que adoro e que me faz sentir muito completa e valorizada pela segurança mínima de um contrato e de um pagamento mensal numa loja qualquer, a ganhar uma ridicularia, mas que, pelo menos, lá vai pingando e sempre dá o privilégio mínimo de se poder ficar doente em casa.

Apesar do anonimato, não temo represálias do Instituto. Na verdade, acho que somos tão pouco importantes para os seus dirigentes que não devem perder uma hora do seu sono a pensar que, se calhar, não receber todos os meses é duro para alguns.

Anónima

3 comentários:

Anónimo disse...

Para além da pratica ilegal que está subjacente a este testemunho, é uma autentica vergonha o Estado não ser pessoas de bem. E depois andam os senhores deputados e ministros com gritinhos histéricos a dizerem que defendem valores. Valores? Qual quê! Defendem a ilegalidade e a incompetência que os caracteriza tão bem. Chegámos ao fundo, somos iguais ao Burkina Faso, e aos restantes países subdesenvolvidos deste mundo em termos de organização, justiça, equidade, e igualdade de oportunidades. Espero que a pessoa deste testemunho e colegas em mesma situação possam ser devidamente avaliados e acompanhados por entidades competentes e não por chefias "saloias e atrasadas mentais".

Anónimo disse...

Também trabalho num tribunal mas para todos os efeitos não trabalho lá, sou um independente liberal a recibos verdes que os passo a uma empresa que por sua vez trabalha para outra que recebe o dinheiro do estado. Sou claro mal pago, estão tantos a comer que pouco me sobra, pago 150 e tal euros de Segurança Social que disso só tem o nome pois não tenho direito a nada, tenho horários como os outros, vou todos os dias trabalhar como se de um emprego normal se tratasse no entanto não tenho direito a férias, sub. alimentação, 13º mes, subsidio Natal, mas caso queiram podem despedir-me sem qualquer razão e estou completamente ceifado de quaisquer direitos laborais. Vergonhas terceiro-mundistas na CEE do Sec. XXI

Anónimo disse...

Já estive na tua situação e estou absolutamente solidária! É incrivel, insultuoso e sei lá que mais, terem o descaramento de porem as pessoas nestas situações e de as explorarem ate mais nao! Nao sei qual foi a minha parte preferida: se as 4 prestaçoes de 25% do valor total da "prestação de serviços"(nome pomposo para definir o salario a receber), que ás vezes era só 2, ás vezes vinham 3 e 4 meses atrasadas; se o facto de todos os anos ter de chatear os colegas de curso para assinarem as propostas fantamas (e fingir que tinham aceite a minha, pq o meu valor era mais baixo); se ver como nas inauguraçoes de exposiçoes gastavam dinheiro à maluca, qdo nós, que as tinhamos montado e ajudado a criar, nos tinhamos esfalfado a trabalhar até às tantas, sem uma unica palavra de agradecimento e tendo as "tranches" em atraso, pois esse valor era usado pelos directores e pelo proprio IPM, para pagar às empresas de catering que serviam os banquetes nas inauguraçoes! Era ve-los a comer o belo queijo da serra, enquanto nos passavamos fome e tinhamos contas para pagar. Apesar de ser uma triste e inqualificavel situaçao, ha quem continue (por sua livre vontade) a ser explorado, sempre com a va esperança de que os lugares para o "quadro" abram...E logo na Cultura, que é so cunhas, tios e tias..