O FERVE recebeu este testemunho de uma trabalhadora que realizou 3 dias de formação na empresa PATAMAR. Um exemplo da exploração e abuso que grassa em muitas empresas do país. O FERVE fará chegar uma denúncia à Autoridade para as Condições do Trabalho.
No dia 5 de março respondi a uma oferta de emprego para um call-centre na empresa PATAMAR. Seria a part-time, com um ordenado-base de 300 euros, remuneração até atraente para o que se tem encontrado.
Dia 6 de março, pelas 10h da manhã, estava já a ter uma formação de três dias, não remunerada, para ver se me adaptava àquele posto de trabalho. Segundo a pessoa que me entrevistou, Raquel Pimenta (que depois me apercebi ser mais do que a menina dos recursos humanos), aquele trabalho era exigente, mas bem pago – tinha como ordenado-base 300euros, e depois ganhava consoante o número de marcações que fizesse, podendo chegar aos 800 euros.
Eram 11h da manhã quando me chamaram, a mim e mais três pessoas para descer ao piso -1 para experimentar, então, trabalhar na empresa. Levaram-nos até uma sala de 5x7m, com duas pequenas janelas fechadas, duas secretárias com vários telefones, folhas e canetas no topo e, ao fundo, um rádio que gritava alguma música comercial energizante. As pessoas que compunham o cenário eram dez trabalhadoras agarradas àqueles telefones, a algumas canetas e às folhas arrancadas das Páginas Amarelas, pousadas sobre as mesas. Por cima do barulho da rádio, e com um falso sorriso nos lábios, gritavam frases repetidas de memória, envoltas de simpatia forçada. Para além disto, duas raparigas estavam de pé, uma em cada ponta, andando enervadamente de um lado para o outro da sala, rente às secretárias e a quem lá se sentava, berrando, por cima das restantes vozes e por cima do barulho da rádio quase em volume máximo, frases que misturavam a psicologia barata, a autoridade praxista, e a total ausência de respeito pelas pessoas que ali levantavam o telefone a cada 30 segundos.
Na tarde anterior tinha visto quatro daquelas dez pessoas sentadas numa mesa de corredor, junto à casa de banho a que me dirigi e não usei, por não ter nem condições nem papel higiénico. Percebi, logo naquele primeiro dia, que tinham ficado na tarde anterior a trabalhar até às 17h porque não tinham conseguido os objectivos mínimos do dia no seu horário (10h às 14h). Aquelas horas, perguntei no meu 2º dia de formação (porque se repetira o prolongamento até às 17h no dia seguinte), seriam pagas como extra? Não, nem pensar, porque o erro tinha sido delas: elas [as trabalhadoras] é que não tinham conseguido fazer marcações, pelo que, por solidariedade com as chefes (a tal Raquel Pimenta e sua copincha, Catarina Fernandes) que lhes berram durante toda a manhã, ficaram por livre vontade. Hmmm, livre vontade?
A todo este cenário, acrescia uma outra figura, a do chefe-more, Leandro, que se passeava, a si e ao seu fato e cabelo loiro penteado, entre as secretárias, as trabalhadoras e as chefes que lhes berravam. De vez em quando, também ele grunhia algo para alguma das trabalhadoras por esta estar parada, falar com o colega, ou telefonar sem o tal sorriso nos lábios.
Durante esse tempo consegui perceber que aquele espaço não era só um espaço de opressão laboral (pressão constante, autoridade ilegítima, coação, retórica de submissão e de fragilização dos trabalhadores, falta de condições de higiene – ao pedir papel higiénico, o chefe responde-me “pede um lenço a alguém, nós não colocamos porque eles comem muito”, desrespeito pelo horário de trabalho, entre outras), mas era também um espaço que se baseava em ações fraudulentas para sobreviver e conseguir vender os seus produtos.
Este era o local de trabalho da 1970 Viagens, uma das secções da empresa Patamar. Tem parceiros tão conhecidos quanto a Optimus, o Não + Pelo, o Jardim Zoológico, entre outros.
O seu modo de agir é, basicamente, percorrer as listas telefónicas dos distritos de Aveiro e Porto (dizem que vão agora difundir-se pelos distritos de Guimarães, Oliveira de Azeméis, entre outros), e fazer as pessoas acreditar que, incrivelmente, foram seleccionadas para um fim-de-semana gratuito numa das 600 casas rurais que a empresa tem à disposição. As pessoas têm apenas de se dirigir à sede da empresa (Aveiro ou Porto) para levantar o voucher de oferta, que se assemelha aos pacotes “Vida é Bela”. Acontece que o voucher não é oferta, mas há que pagar por ele 30 euros. Há que também assinar com eles um pré-contrato de adesão como cliente à empresa. Mas isto só se perceberá o cliente quando vier levantar a “oferta”. Após percorrerem, muitas vezes, dezenas de quilómetros, para o levantar, e se demorarem ali, não 5 minutos como é entusiasticamente anunciado, mas mais de 1hora, entre filmes e argumentação abusiva, tresandando, claro, a simpatia e honestidade falsas.
Três dias depois, recebi uma mensagem, por telemóvel, que dizia: “tivemos a fazer a selecção das pessoas que tiveram de formação, e tu não foste seleccionada. Obrigada até uma próxima."
10 comentários:
Respondi a um anuncio para técnico de turismo, ao qual fui seleccionado para entrevista, entrevista essa realizada por uma menina (Andreia) que nada percebe de turismo ou agências de viagens,pois nem sequer o tipo de programas de reservas sabe indicar, indicou-me que a dita formação se iniciava nos três dias seguintes mas para aguardar o seu contacto, que não recebi (pensei não fui seleccionado). Na semana seguinte recebi um telefonema de uma tal Diana Brado com muito pouca empatia a referir que a formação começava no dia seguinte e durante três dias, como não tinha as coisas bem esclarecidas, tentei questionar a tal Diana sobre "então disseram-me que era a semana passada" iam abrir novas lojas de rua em Guimarães e Paredes", bem do outro lado da linha o que tive de forma arrogante, agressiva e com falta de educação, como resposta foi nada e do tipo" mas como é está disponivel para a formação amanhã ou não" evidentemente que disse que não. Fiz uma breve pesquisa e encontrei imensas coisas relativas ao "perfil" da dita empresa que não conhece ou ignora o que são as boas praticas empresariais e ÉTICA. e em resposta a alguns comentários pelo que vi os colaboradores que lá trabalham que tenham cuidado no que por aqui escrevem, não vão correr o risco de contradizer num futuro próximo, e trabalhar tenho a certeza que como eu existe muito boa gente a querer trabalhar agora pagar para trabalhar ou cumprir "sentenças de escravatura" já foi o tempo.
Resolvi comentar prestar a minha solidariedade com os lesados e para demonstrar que continuam a recrutar pessoas que muitas vezes no desespero aceitam qualquer e depois ainda vêm acrescidos no seu plano economico mensal as despesas onde supostamente era para ganhar.
Bem hajam, ÉTICA E RESPEITO PRECISA-SE
Trabalhei como precária para a Patamar cerca de 4 longos e agonizantes meses... acabei por vir-me embora porque, para além de tudo mais que foi relatado emais umas situações de precaridade e exploração impressionante, assistia o chamado "supervisor" a chamar de velha e senil a uma srª dos seus 50 anos que só queria trabalhar! Acabei por rebentar e conseguir ser do mesmo nível que eles para com o "supervisor"... e soube tão bem!
Ontem fui contactada por essa empresa ao qual após 2 horas de blá blá blá teria direito a um fim de semana qualquer completamente gratuito.
Claro está que teria alguma coisa por trás e fui levada a assinar um contrato no valor de 4.750€. Pretendiam também que lhes fornecesse o meu nib mas não o fiz. No entanto assinei o referido contrato. Após um dia de o assinar enviei lhes uma carta com a finalidade de o rescindir. Alguém me pode informar se a carta é o suficiente para acabar com esta burla? E o facto de não lhes ter dado os dados bancários impede-os de aceder a minha conta? Obrigada!
Bem, também recebi uma chamada dessas e lá fui. Previamente já tinha trabalhado, na extinta agência de viagens palme, que fica quase em frente a esta, em 2000. Sei que ofereciam esta estadia de 1 ou 2 noites por isso decidi ir. Apesar da palestra que teria de ouvir, assinei lá os papéis (fui um bocado burro, mas ok) pois segundo lá o "vendedor" (marco santos)disse que só perante a minha autorização em 15 dias é que seria avançado o processo caso quisesse ser sócio. Qual o meu espanto que me retiram 100€ da conta e vou logo lá.
"Então mas dizem uma coisa e fazem outra?" digo eu.
Responde lá o que pensa que é chefe de alguma coisa "você assinou estava à espera de quê?"
Que cumprissem a palavra deles!!
Mas tive que falar mais de vinte vezes para esse filho da mãe dele, entender que lá o srº marco santos me enganou.
Enfim... Tive que mandar uma carta registada a dizer que queria cancelar a porcaria do contrato!
Olá Boa tarde,
encontrei hoje este blogge. Por acaso alguém sabe dizer-me o resultado de alguma audiência em tribunal com O grupo Patamar?
a minha audiência será na 3f, seria de uma mais valia encontrar alguém disponível a testemunhar contra eles...
obrigada
Sra Monica, conseguiu resolver o problema??
Eu estou na mesma situação e já nao sei o que fazer.
Agradeço desde já,
Joana
Boa noite, também sou uma vitima desta empresa miserável e sem escrúpulos nenhuns. Quero rescindir do contrato e nao sei bem como sair desta. Alguém me consegue ajudar?
Eu cheguei a ir à entrevista e foi suficiente.Talvez pela minha formação em Direito, coloquei uma série de questões e não senti confiança na Empresa, o entrevistador disse que ia ser contactada para me comunicarem se integraria ou não a função, na ausência do telefonema, liguei e deram-me umas desculpas esfarrapadas, estava disposta a um novo encontro, para esclarecer uma série de pontos, obviamente que não devem ter apreciado esta postura e nunca mais disseram nada.Estes casos devem ser denunciados e a Justiça actuar.
Eu testemunho contra eles. alvaro_9852@hotmail.com
Eu testemunho contra eles. alvaro_9852@hotmail.com
Enviar um comentário