30 julho 2007

Testemunho: Universidade Fernando Pessoa

Acto I

A propósito de cumprimento de horários e obediência a chefias, aqui deixo uma estória que ilustra o quanto dependente pode ser um "trabalhador independente". Fui docente na Universidade Fernando Pessoa, a recibos verdes. De um dia para o outro, mudavam os horários lectivos. Os docentes tinham de estar disponíveis todos os dias da semana, das 8h00 à 23h00. Eu estava a dar uma disciplina e a coordenadora do departamento pediu-me para dar uma segunda disciplina. Eu aceitei, sob condição de ser num determinado horário e dia da semana. Ela aprovou e comecei a dar a disciplina no horário combinado. Na semana seguinte, mudaram-me o horário para um dia diferente e para o período da tarde. Num dia e num horário em que eu tinha aulas noutro estabelecimento de ensino! Reclamei e a dita coordenadora disse-me que eu tinha de solicitar uma mudança de horário. Fiz o pedido e uma semana depois recebi uma resposta negativa. Nova reclamação, ao que a coordenadora do departamento me responde: "As suas aulas da outra universidade não têm nada a ver com as aulas da UFP! Tem de cumprir o horário!" E negou que tivéssemos combinado que as aulas seriam num determinado dia da semana e no período da manhã. Eu quis expor o caso ao reitor, que nunca se dignou receber-me, apesar de eu ter renovado o pedido, junto da secretária, meia dúzia de vezes...


Acto II

Dei aulas na Universidade Fernando Pessoa, no período nocturno. Não recebia mais por trabalhar à noite. A remuneração horária era a mesma que para as aulas diurnas. Qual não é o meu espanto quando me marcam o exame daquela turma da noite para as 8h00. Isso obrigava-me a passar a noite anterior no Porto, pois não havia transportes que me permitissem chegar às 8 horas da manhã à UFP. Pedi mudança de horário. Adivinhem qual foi a resposta. Pois, a mesma que no Acto I. Além de pagar o transporte habitual, ainda tive de pagar hotel. Por acaso, a aluna inscrita para o dito exame não apareceu...


Acto III

Quando me recrutaram para dar aulas na Universidade Fernando Pessoa, tive direito a uma longa entrevista com o reitor, todo ele simpatia. Dois anos depois, para me dispensarem, tive apenas e singelamente direito a uma carta, enviada no dia 31 de Julho, em correio registado, e recebida no final de Agosto, ao regressar de férias. Na carta avisavam-me ainda que teria de devolver a chave do meu cacifo. A pedido meu, enviaram-me por correio o conteúdo do dito cacifo, que continha ainda os meus pertences. Um modus operandi expeditivo e glacial. Não sei se o Fernando Pessoa não andará às voltas no seu túmulo...


Anónima

2 comentários:

Anónimo disse...

Sou docente da Universidade Fernando Pessoa, com muito orgulho, e trabalhadora independente em todas as instituições onde trabalho. Considero que existem instituições (a maior parte) que realmente não garantem o devido e mínimo respeito dos direitos humanos e do trabalhador. A Universidade Fernando Pessoa, ao contractar alguns professores para leccionarem algumas horas, não tem o compromisso de efectivar alguns direitos que os professores da casa apresentam. Nós, professores, com todo o devido respeito que tenho pelos docentes que trabalham e lá trabalharam a "recibos verdes", temos que ter uma atitude de abertura, comunicação e adpatação às condições que nos são oferecidas, tendo em conta a remoneração que nos é permitida obter em troca do nosso emprenho. Não é em todo lado que isto acontece. Aliás conheço poucas instituíções onde isto acontece.

Angélica Rocha

Anónimo disse...

Bem sei que este comentário já é de 2008, mas uma coisa fiquei a saber, com toda a certeza: há docentes da Universidade Fernando Pessoa que nem saber escrever sabem. Num único parágrafo, pelo menos dois erros crassos: contraCtar. É contratar antes e depois do AO. E remOneração. Ainda bem que esta professora tem tanto orgulho... não sei é bem de quê...